terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Inquietude Metafísica


Se existe o centro em torno do qual gravita a pedra solta no espaço;

Se existe o sol que a planta adivinha em plena escuridão;

Se existem zonas banhadas de luz e calor que de veementes saudades enchem as aves migratórias;

- Por que não existiria algures esse grande astro por que minh'alma suspira?...

- Por que não cantaria, para além desses mares visíveis, o invisível país da minha grande nostalgia?...

Por que não?...

Seria o homem, rei e coroa da creação*1, a única desarmonia no meio dessa universal sinfonia da Natureza?

Um caos de desordem em pleno cosmos de ordem?

Não atingiria ele jamais a meta das suas saudades?

Seria ele um eterno Tântalo ludibriado pela miragem duma felicidade quimérica?

Seriam as mais nobres aspirações de minh'alma eternamente burladas por um gênio perverso e cruel?

E teria esse tirano o nome de Deus?

Quem poderia crer coisa tão incrível?

Que inteligência abraçar tamanho absurdo?

Creio, Senhor, na imortalidade, porque creio no teu amor!

Creio na vida eterna, porque creio na ordem dos teus mundos!

Creio no mundo futuro, porque creio na harmonia do teu Universo!

Para além de todos os enigmas e paradoxos da vida presente existe uma solução e uma verdade eterna.

Após a noite deste mundo que nos desorienta, despontará a alvorada dum dia que iluminará os nossos caminhos.


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Continua, pois, Centro eterno, a atrair o meu coração, que inquieto está até que ache quietação em ti...

Continua, ó Sol divino, a encher-me de veemente heliotropismo o espírito, para que, no meio das trevas, procure a tua grande claridade...

Continua, ó tépida Primavera, a chamar das regiões polares a avezinha nostálgica de minh'alma, que só na zona tropical do teu amor encontra paz e vida eterna...

Só em ti, meu Centro, meu Sol, minha Primavera, sucederá à dolorosa inquietude do meu espírito a inefável quietude de todo meu ser...




(Texto de autoria de Huberto Rohden, retirado do livro "De Alma para Alma).





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Notas explicativas:

*1 - Creação: criação em sentido metafísico e espiritual. Crear é diferente de criar, e creação é diferente de criação. Crear é a manifestação da Essência em forma de existência. Criar é a transição de uma existência para outra existência. Segundo o autor, em nível de cultura popular, é aceitável considerar essas duas palavras como sinônimas, pois facilita a alfabetização e dispensa esforço mental, mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento.






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