sábado, 15 de maio de 2010

O Amor Maior

                             Falando um pouquinho mais de mim (um posicionamento pessoal), farei uma declaração que há muito já tenho devido. Portanto, como dito no post anterior, quem não compreender, apenas aproveite a mensagem, que apesar de ter brotado de uma experiência pessoal, não deixa de ser verdadeira e extensiva a todos.
                              Desde quando nasci para Deus, minha vida tem mudado a cada instante, e isso realmente deixa uma pessoa com uma mente despreparada realmente sem saber o que fazer da vida. E posso lhes dizer, minha mente estava tão despreparada para compreender tudo aquilo que Deus havia me confiado que tudo foi (e ainda tem sido) tão difícil como um parto. A forma como eu costumava viver, a forma como eu tenho vivido, e a reação das pessoas frente a esse meu posicionamento são os fatores que mais geram o conflito mental que acima mencionei. Ainda não estou preparado mentalmente para lidar com a forma de pensar das pessoas. E às vezes sou pego em uma jaula mental totalmente confusa, num labirinto sem saída. Pensamentos e teorias que chegam e se vão. As pessoas pensam em tantas coisas, que movido pelo mais puro senso de comunhão, quase que sou obrigado a pensar nessas coisas também, coisas muito estapafúrdias, que vão desde o mais bizarro dos comportamentos humanos (que escondem um comportamento moral e ético), até o mais sublime dos comportamentos (na verdade, travestido do mais torpe dos sentimentos de exclusão, egoísmo e excomunhão). Em meio a tantas coisas, uma apenas não se sobressai: aquela que eu procuro em todos os cantos e não consigo achar nos corações mais ordinários. Por quê? Por que é simplesmente tão difícil encontrar Amor? Amor verdadeiro? O Amor Maior? Quando me pego a meditar, sinto que é tão simples experienciar e vivenciar esse Amor... No entanto, por que as pessoas fogem daquilo que há de mais natural nelas mesmas? Elas não sabem tantas coisas simplesmente básicas que até sinto-me constrangido por isso.
                             Bom... mas isso não vem ao caso. O que eu quero dizer é que, desde que nasci para Deus, minha vida tem sido apenas isto: tentar revelar o Amor Maior às pessoas. Fazê-las conhecer essa essência básica e, no entanto, única verdadeira necessidade sublime da espiritualidade humana. Algo que dispensa teorias, dispensa hipóteses, e que, sem mais nem menos, inclui tudo isso numa certeza mental totalmente desnecessária, uma vez que quando se vive tal certeza, falar sobre ela é apenas um acréscimento bonitinho. Procuro por isso nas pessoas, pois me sinto só. Não consigo encontrar um amor assim? Onde estão todos os que amam? Por que as pessoas não querem viver assim? Será que elas não sabem o que é Amor? Será que elas possuem um conceito diferente de Amor? Tenho me convencido que aquele que ainda não descobriu o verdadeiro sentido do Amor, ainda não se conheceu. Não sabe quem ele é. E também não conheceu a Deus. Não sabe quem Ele é.
                              Não estou falando de teologias... por favor. Falo daquilo que há de mais intrínseco no ser humano (e se observamos bem, em toda a natureza ao nosso redor também). É uma compreensão que parte de uma simples observação, de um desejo muito maior que existe dentro de cada um. Não estou falando do desejo cármico que Buda dizia ser ilusão e gerador do sofrimento. Se for esse o conceito, então falo de um contra-desejo. Pois existe esse desejo (contra-desejo) que é a mais autêntica expressão da espiritualidade universal. Digo sobre o desejo de amar e de ser amado. Quando éramos crianças, sabíamos tudo sobre isso... mas parece que a idade nos transforma em serezinhos egoístas, auto-suficientes, "selfish". Ironicamente, essa pretensão de liberdade é tão ilusória que é capaz de nos aprisionar em nós mesmos. Veja lá: prisioneiros de nós mesmos. Que prisão mais ingrata. As pessoas, crendo estar se libertando, adquirindo liberdade, autonomia, vivendo a própria vida sem se importar com mais nada, estão na verdade se perdendo e se distanciando da fonte da Vida, que está tão intrinsecamente "relacionada", que simplesmente não pode ser conhecida em apartado. As pessoas estão criando sua própria prisão, porque simplesmente se esqueceram do mais básico: Amor é relação. Deus é relação. Nem mesmo Deus existe se não for por meio de relação. Porque Deus é relação. É Amor. Deus é o eterno dínamo. Ora, alguém duvida que o Amor é uma relação? Que o Amor pressupõe uma dinâmica? Ou por acaso existe amor onde não há aquele que ama e aquele que é amado? Não! Não há. Então por que o homem, serzinho dos mais sublimes e torpes que já surgiram na face da terra, quer viver por si mesmo, sozinho? Como, meu Deus? Se nem Ti que é o auto-existente suporta viver sem ser um Ser Relacional? Se nem Deus existe fora de uma relação, como o homem viverá?
                             Aqui concluo a grande verdade escondida há tanto tempo debaixo dos olhos de tantas pessoas que até dói vê-las tão cegas. Por acaso não há uma única ilusão? Se Deus é Um, então só há uma Ilusão: aquilo que não é Deus. Por acaso ilusão não é aquilo que não é bom? Aquilo que não é Deus? Ora, e o que não é Deus? Deus não é aquilo que não é bom, pois tudo o que é Bom é Deus, veio de Deus e foi criado por Deus. E o que não foi criado por Deus, se de tudo o que Ele criou viu que tudo era bom? Ora, nossa própria natureza já sabe. O que não é bom para nós? O que contraria nosso mais excelso desejo intrínseco e indizível da nossa espiritualidade inominada, sem citar nenhum "ismo"? O que contraria aquilo que todo ser humano já nasce sabendo, antes mesmo de aprender a falar? O que contraria o nosso desejo de sermos amor, de amar e de sermos amados? O que mais contraria esse desejo de sermos à imagem e semelhança do nosso Criador, um Ser, por definição, relacional? Ora a própria Criação atesta sobre isso. Se Deus criou tudo para Si mesmo, para que Ele sentisse prazer em se relacionar com suas criaturas, se todo o Universo existe por causa desse único objetivo divino, o da comunhão, então é óbvio aquilo que não é bom... (Gen 2, 18).
                              Deus não criou um Universo sem universos, um universo sem galáxias, nem galáxias sem estrelas, nem estrelas sem planetas, nem planetas sem satélites, nem nada que não tivesse seu semelhante, de modo que não houvesse nada que não estivesse em órbita e em função de uma outra criatura. O Universo é relacional por natureza, pois Deus é um Ser relacional por natureza. Ele é Amor. E Amor não existe, por definição, sem existir alguém que ame e alguém que é amado. O que é ilusão? O que não é bom? Ora... aquilo que não tende à comunhão. Aquilo que isola, que aprisiona, que nos degenera, que nos deforma a imagem, que vai contra o nosso desejo de sermos amor (amar e sermos amados). De tudo que Deus criou, uma coisa Ele viu que não era boa, e essa é a ilusão, pois não é verdadeira. Trata-se da solidão humana. A solidão humana só existe, por definição, quando há ausência de essência humana. Eis aí a ilusão. A solidão humana não é existência verdadeira, pois não tem essência. Ela só existe quando ocorre a ausência da essência humana. É como o frio, que só existe onde há ausência de calor. Como as sombras, que só existem onde não há luz. Como o mal, que só existe onde há ausência de bem. Portanto, senhores. Eis a ilusão: a ausência.
                             A ilusão está sobre aquele que se ausenta do conjunto harmônico do Universo. O Universo é essa presença relacional, essa obra harmônica e infindável. E onde não há essa harmonia, essa Presença, o que há é ausência. É ilusão. Ilusão é ausência. Apenas isso. A única coisa que não é boa é aquela que não existe, pois tudo quanto Deus criou e existe, Ele mesmo viu que era bom, pois estava tudo relacionado. A única coisa que não estava relacionada era aquilo que Ele não havia criado: a ausência. No entanto, desde o princípio, ao constatar Deus que não era Boa a ausência (pois é justamente o oposto de Sua Presença, que era Boa), quis Ele resolver nosso problema e nos dar a escolha de optar entre a Presença e a Ausência. (Gen 2, 19-20). E o homem não encontrava nada no Universo que lhe retirasse o vazio relacional, que lhe tirasse da solidão avassaladora, que lhe fizesse companhia. O ser humano era uma obra tão complexa que nada no Universo de Deus podia lhe fazer um par. Apenas um outro ser humano poderia lhe ser um par adequado, um outro igual a ele. E assim foi feito. Assim foi completado o desejo do ser humano de ser Amor como Deus é Amor, pois assim ele poderia amar e ser amado (manifestar o Amor que é sua essência). E todo o pecado consiste em denegrir essa imagem de Deus em Nós. Todo o pecado gira em torno de estragar essa comunhão que deve existir entre as pessoas. Todo o pecado é aquilo que tenta parar a manifestação do nosso amor. Este mundo onde impera a desarmonia, onde as pessoas se engalfinham e se matam para fazer prevalecer seus desejos egoísticos, desejos de separação, de se ausentar (aqui entra o conceito de desejo budista... um desejo que leva para o mal e para o sofrimento), é um mundo imundo (que significa impuro, fora de ordem), justamente porque ordem é sinônimo de harmonia, de comunhão, de relação. As pessoas acham que se amam quando estão satisfazendo unicamente seus desejos mais comezinhos e pouco se importando com mais nada. Elas acham: "tenho que amar a mim mesmo em primeiro lugar, o resto que se dane". Acham que assim serão felizes. Porém, a cada nova tentativa de suprir essa necessidade de felicidade sozinho, nas coisinhas que existem por aí, sem compartilhar essa felicidade com ninguém, essa "felicidade" acaba se voltando contra ele, e lá no seu peito surge um grande buraco, um grande vazio insuportável, que ele tenta novamente preencher sozinho, sem ninguém, e isso vai virando uma bola de neve. E ele repete a si mesmo como um mantra: "tenho que me amar. Tenho que buscar minha felicidade". No entanto, o que essas pessoas fazem? O que elas sabem sobre o Amor? Será que se amam? Dizem por aí que os egoístas amam só a si mesmos. METIRAAAAA!!
                             Os egoístas não amam. Esqueceram a capacidade de amar. Elas se odeiam e se destróem por medo ou por ignorância. Os egoístas acham que se amam, mas na verdade se odeiam, pois fazem um mal danado a eles mesmos. Quem se ama quer o melhor para si. E sabe que o melhor para si é ter por perto um que seja igual a si. Quem se ama faz tudo o que o egoísta também faz. Ele se diverte com as coisas tipicamente materiais, culturais, etc. A diferença é que ele sabe como se amar, e sabe que nada disso tem sentido se não tiver alguém com quem compartilhar. A diferença entre o que ama e o que é egoísta, é que este está sempre sozinho. E nesse fenômeno, o que ama encontra felicidade em tudo, gozando de qualquer coisa que lhe seja dada, e o egoísta goza de tudo, sem nunca encontrar felicidade em nada, por mais que busque todas as riquezas do mundo. Ele não sabe que as riquezas do mundo existem para ser compartilhadas com alguém, e por isso é que tais riquezas não suprem seu vazio, não lhe fazem feliz. Ora, simples assim. Nada no Universo é capaz de suprir aquilo que é Bom para o homem senão outro homem (imagem de Deus). No entanto, ainda hoje, as pessoas isolam-se em si mesmas. Eregem sobre si muralhas para se proteger dos outros, para se isolarem dos outros, pois no fundo há um desejo torpe vindo de não sei onde de se enxergar como ser auto-suficiente, de ser sozinho, de não precisar de ninguém, de não ser como Deus (o único auto-suficiente que é, por definição, um Ser relacional... hahaha... ironia).
                             De onde vem esse desejo de não ser como Deus, de não ser relacional? Será que não vem de outro senão do Maligno, aquele que deseja ser mais do que Deus? No entanto, sabe o Maligno (mera "sombra ausêntica" da Presença de Deus) algo sobre a Verdade de todas as coisas? Ele que só parece existir, mas que é mera sombra, sabe algo? Não é ele o eterno mentiroso? Não só parece existir a ausência como uma conseqüência da Presença que realmente existe? Como pode uma sombra saber algo sobre a Luz? Como pode a ausência compreender a Presença? Como podem as trevas compreender a Luz? (João 1, 4-5). No entanto, essas trevas, essas ausências, continuam a atrair milhares de pessoas que simplesmente se esqueceram de viver como criancinhas, que se esqueceram que o único desejo que as trouxe ao mundo foi o próposito de serem amadas e amar, que se esqueceram que desde seu berço não tinham ego algum em separado, mas que sentiam-se parte do ego da mãe, do ego do pai, do ego do irmão, e que ficavam felizes quando estes eram felizes e tristes quando estes eram tristes. As trevas continuam arrastando essas pessoas que se esqueceram de ser como crianças, que são sempre menos de si mesmas e muito mais com os outros em prol de todos serem Um. A ausência derruba essas pessoas que querem ser "gente grande", "desnecessitados", independentes, auto-suficientes, serem "livres", serem "selfish", sem saber que estão pagando um alto preço por isso: a morte, a infelicidade e a insatisfação constantes. Desde o princípio se sabe que nada no universo é capaz de dar felicidade ao homem, senão aquele que lhe é semelhante em tudo (Deus e a imagem de Deus). O pecado é ainda ficar buscando no Universo a finalidade da sua felicidade, enquanto que o Universo foi criado como meio de felicidade e não como fim da mesma. A finalidade é compartilhar com Deus e com outro homem, é amar e ser amado (por meio das riquezas criadas que o Pai não cessa de nos dar). O pecado é usar as pessoas para se chegar às coisas, para suprir o vazio (quando na verdade deveríamos usar as coisas para chegarmos às pessoas e a Deus, para sermos, enfim, felizes).

                             Este é o pecado: a ausência. O preço do pecado é a morte, e todo aquele que se isola encontra-se, na verdade, morto espiritualmente. Como pode ainda a ausência, que hoje em dia se disfarça de uma aparência tão sutil e atraente, com promessas de uma liberdade falsa, ainda conseguir derrubar tantas pessoas num poço de escuridão e vazio existencial que está totalmente contra a própria natureza humana? Como pode a ausência ainda atrair tantas pessoas para o Nada? Como pode uma ilusão, algo que não existe, ainda ser tão atrante a ponto de seduzir com artimanhas e promessas de sermos como deuses (num desejo torpe e desvirtuado de sermos diferentes de Deus e até mesmo de alguma forma superiores a Ele), atrair tantas pessoas? O pecado consiste em se buscar a ausência existencial, e cada vez que o ser humano dá um passo na direção da ex-comunhão, está mais um passo longe de conhecer o que é Deus, Ele que é a plena comunhão, a plena Unidade. Longe também de se auto-conhecer.
                              Eu, da minha parte, ainda busco nas pessoas o Amor de Deus, um amor que sei que está dentro de mim e que está implorando por alguém para ser amado, implorando para sair da ausência, da solidão. Quando busco Deus só em mim, vejo-me sozinho, desolado. Encontro a ausência, que ocorre quando Deus que estava em mim "me foge"... amor parado, amor ausente... desolação, solidão. Porque meu amor que está aqui, sozinho, não é nada. EU PRECISO DAS PESSOAS... DE TODAS! PRECISO AMÁ-LAS E SER AMADO POR ELAS. Esse é meu grito mais urgente, pois quero a verdadeira felicidade, que está na comunhão, na Unidade. Não tenho vergonha de dizer que sou carente. Mas tenho plena convicção que sou carente da coisa certa. Deus não está só lá fora no meu irmão, nem aqui dentro só em mim. Ambos encontraremos a solidão se procurarmos só lá fora ou só cá dentro. A Comunhão é superior que o isolamento. Deus não está aqui ou ali, mas em toda parte. Ele é superior porque é relação. Não está em lugar nenhum, mas está em todos os lugares. Não está dentro, nem fora. Está tanto dentro quanto fora. Algo tão transcendente só pode ser Deus. Não está unicamente em mim, nem unicamente em nada. Deus só é encontrado na comunhão. Ele não está só lá fora no meu irmão, nem aqui dentro só em mim. Deus está principalmente na relação pura que há entre o eu e o outro. E meu coração não cessará até chegar a essa meta. Aqueles que não quiserem entrar nessa comunhão, infelizmente estarão fora dela, pois ninguém ama e é amado se não quiser. É um desejo que todo mundo tem por essência, mas que só vai manifestar se quiser realmente se conhecer.





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