quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Catecismo da Igreja Católica (CIC). Introdução


                              A palavra catequese vem do grego "katekhesis", que significa "instruir oralmente". Ou seja, catequese é a tradição oral do cristianismo, passada de geração em geração desde os primeiros cristãos até os dias de hoje. A tradição oral forma, junto com as Sagradas Escrituras, a totalidade do depósito da fé cristã (depositum fidei). "A Sagrada Tradição e as Sagradas Escrituras constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus", no qual, como em um espelho, a Igreja peregrinante contempla a Deus, fonte de todas as suas riquezas.



                              "Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles 'transmitindo seu próprio encargo de Magistério." Com efeito, "a pregação apostólica, que é expressa de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos". Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, é chamada de Tradição enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Por meio da Tradição, "a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê". "O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante."

                              Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, "não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura". Por isso, ambas (Tradição e Sagrada Escritura) devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência. A Tradição da qual aqui falamos é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito Santo. Com efeito, a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva. Dela é preciso distinguir as "tradições" teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais da Grande Tradição. Aquelas constituem formas particulares sob as quais a Grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz da grande Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja.



                              Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir quais escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados. Esta lista completa é denominada "Cânon" das Escrituras. Ela comporta 46 (45, se contarmos "Jr" e "Lm" juntos) escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo Testamento. "Os autores sagrados escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas ou oralmente ou já por escrito, fazendo síntese de outras ou explanando-as com vistas à situação das igrejas, conservando, enfim, a forma de pregação, sempre de maneira a transmitir-nos, a respeito de Jesus, coisas verdadeiras e sinceras." Essa foi a origem dos evangelhos canônicos, compilados segundo a inspiração do Espírito Santo e escolhidos pela Igreja por manterem identidade com a Sagrada Tradição cristã, que por sua vez é organismo vivo do próprio Espírito Santo. O reconhecimento dos evangelhos se deu pela força e ação do Espírito Santo, uma vez que Ele foi o inspirador dos documentos e o formulador da Tradição. Foi o mesmo Espírito Santo, portanto, que inspirou tanto aqueles homens que produziram os evangelhos quanto aqueles que os elegeram como sendo os verdadeiros, à luz do próprio Espírito, do qual emana a Tradição cristã.

                              "Fica, portanto, claro que, segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos que um não tem consistência sem os outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas". "Pois, se no mundo as línguas diferem, o conteúdo da Tradição é uno e idêntico. E nem as Igrejas estabelecidas na Germânia têm outra fé ou outra Tradição, nem as que estão entre os iberos, nem as que estão entre os celtas, nem as do Oriente, do Egito, da Líbia, nem as que estão estabelecidas no centro do mundo", possuem outro depósito de fé. "A mensagem da Igreja é, portanto, verídica e sólida, pois é nela que um único caminho de salvação aparece no mundo inteiro".



                              Como já visto, a Grande Tradição cristã se transmitiu oralmente, por meio das inúmeras catequeses (instruções orais) sobre a fé e a doutrina de Jesus Cristo. Os responsáveis pela transmissão da Tradição, por meio das instruções orais (catequeses) foram os apóstolos e os bispos e padres por eles ordenados. No entanto, devido à necessidade moderna, compilou-se as catequeses cristãs dos santos padres (ou seja, as instruções orais advindas da Tradição) em um documento escrito denominado Catecismo (palavra que vem do grego Katekhismós, significando "instrução"). Assim, o documento que hoje é conhecido como o Catecismo da Igreja Católica nada mais é do que um compêndio das catequeses advindas da Sagrada Tradição, que, como vimos, devem formar, junto com as Sagradas Escrituras, o depósito de toda a fé cristã, que leva o homem ao conhecimento da verdade sobre a revelação de Deus.

                              Apesar de versar sobre a doutrina oficial do catolicismo e sobre o depósito da fé cristã, o catecismo não é capaz de responder a todas as perguntas sobre os mistérios da vida e do ser humano, uma vez que a revelação divina se completa por meio da ação do Espírito Santo nos homens que de boa vontade abrem seus corações e buscam respostas. Assim, todo aquele que recebe as "instruções" sobre a doutrina cristã tradicional deve também abrir seus ouvidos à ação do Espírito Santo, único que sonda e revela a profundidade do mistério divino. É o próprio Espírito que continua a nos lembrar tudo quanto precisamos para vivermos em Deus, mantendo firme a Tradição e reavivando o mistério do Cristo no meio dos homens.




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