sábado, 12 de março de 2011

Catecismo - Parte IV


A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
OS SÍMBOLOS DA FÉ



                              185) Quem diz creio diz "dou minha adesão àquilo que nós cremos". A comunhão na fé precisa de uma linguagem comum da fé, normativa para todos e que una na mesma confissão de fé.

                              186) Desde a origem, a Igreja apostólica exprimiu e transmitiu sua própria fé em fórmulas breves e normativas para todos. Mas já muito cedo a Igreja quis também recolher o essencial de sua fé em resumos orgânicos e articulados, destinados sobretudo aos candidatos ao Batismo:

Esta síntese da fé não foi elaborada segundo as opiniões humanas mas da Escritura inteira recolheu-se o que existe de mais importante, para dar, na sua totalidade, a única doutrina da fé. E assim com a semente de mostarda contém em um pequeníssimo grão um grande número de ramos, da mesma forma este resumo da fé encerra em algumas palavras todo o conhecimento da verdadeira piedade contida no Antigo e no Novo Testamento.


                              187) Estas sínteses da fé chamam-se "profissões de fé", pois resumem a fé que os cristãos professam. Chamam-se "Credo” em razão da primeira palavra com que normalmente começam: "Creio". Denominam-se também "Símbolos da fé".



                              188) A palavra grega "symbolon" significava a metade de um objeto quebrado (por exemplo, um sinete) que era apresentada como sinal de reconhecimento. As partes quebradas eram juntadas para se verificar a identidade do portador. O "símbolo da fé" é, pois, um sinal de reconhecimento e de comunhão entre os crentes. "Symbolon" passa em seguida a significar coletânea, coleção ou sumário. O "símbolo da fé" é a coletânea das principais verdades da fé. Daí o fato de ele servir como ponto de referência primeiro e fundamental da catequese.

                              189) A primeira "profissão de fé" é feita por ocasião do Batismo. O "símbolo da fé" é inicialmente o símbolo batismal. Uma vez que o Batismo é dado "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19), as verdades de fé professadas por ocasião do Batismo estão articuladas segundo sua referência às três pessoas da Santíssima Trindade .

                              190) O símbolo está, pois, dividido em três partes: "Primeiro, fala-se da primeira Pessoa divina e da obra admirável da criação; em seguida, da segunda Pessoa divina e do Mistério da Redenção dos homens; finalmente, da terceira Pessoa divina, fonte e princípio de nossa santificação". Esses são "os três capítulos de nosso selo (batismal)".

                              191) "Estas três partes são distintas, embora interligadas. Segundo uma comparação usada com freqüência pelos Padres, chamamo-las de artigos. Pois da mesma forma que em nossos membros existem certas articulações que os distinguem e os separam, assim também nesta profissão de fé, com acerto e razão, se deu o nome de artigos às verdades em que devemos crer especificamente e de forma distinta". Segundo uma antiga tradição, já atestada por Santo Ambrósio, também se costuma contar doze artigos do Credo, simbolizando com o número dos apóstolos o conjunto da fé apostólica.



                              192) As profissões ou símbolos da fé têm sido numerosos ao longo dos séculos e em resposta às necessidades das diversas épocas: os símbolos das diferentes Igrejas apostólicas e antigas, o Símbolo "Quicumque", dito de Santo Atanásio, as profissões de fé de certos Concílios (Toledo; Latrão; Lião; Trento) ou de certos papas, como a "Fides Damasi" (Profissão de Fé de São Dâmaso) ou o "Credo do Povo de Deus", de Paulo VI (1968) .

                              193) Nenhum dos símbolos das diferentes etapas da vida da Igreja pode ser considerado ultrapassado e inútil. Eles nos ajudam a viver e a aprofundar hoje a fé de sempre por meio dos diversos resumos que dela têm sido feitos.

Entre todos os símbolos da fé, dois ocupam um lugar particularíssimo na vida da Igreja.

                              194) O Símbolo dos Apóstolos, assim chamado por ser, com razão, considerado o resumo fiel da fé dos apóstolos. É o antigo símbolo batismal da Igreja de Roma. Sua grande autoridade vem do seguinte ato: "Ele é o símbolo guardado pela Igreja Romana, aquela onde Pedro, o primeiro apóstolo, teve sua Sé e para onde ele trouxe comum expressão de fé (sententia communis = opinião comum)”.

                              195) O Símbolo denominado niceno-constantinopolitano tem sua grande autoridade no fato de ter resultado dos dois primeiros Concílios ecumênicos (325 e 381). Ainda hoje ele é comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente.”

                              196) Nossa exposição da fé seguirá o Símbolo dos Apóstolos que constitui, por assim dizer, "o mais antigo catecismo romano". Contudo, a exposição será completada por constantes referências ao Símbolo niceno-constantinopolitano, muitas vezes mais explícito e mais detalhado.

                              197) Como no dia de nosso batismo, quando toda a nossa vida foi confiada "a regra de doutrina" (Rm 6,17), acolhamos Símbolo de nossa fé que da vida. Recitar com fé o "Credo" é entrar em comunhão com Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. É também entrar em comunhão com a Igreja inteira, que nos transmite a fé e no seio da qual cremos:

Este Símbolo é o selo espiritual, a meditação do nosso coração e o guardião sempre presente; ele é, seguramente, o tesouro da nossa alma.



CAPÍTULO I - CREIO EM DEUS PAI

                              198) Nossa profissão de fé começa com Deus, pois Deus é o Primeiro e o ultimo" (Is 44,6), o Começo e o Fim de tudo. O Credo começa com Deus Pai, pois o Pai é a Primeira Pessoa Divina da Santíssima Trindade; nosso Símbolo começa pela criação do céu e da terra, porque a criação é o começo e o fundamento de todas as obras de Deus.


ARTIGO 1

"CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO,
CRIADOR DO CÉU E DA TERRA"

PARÁGRAFO 1 - CREIO EM DEUS


                              199) "Creio em Deus": esta primeira afirmação da profissão de fé é também a mais fundamental. O Símbolo inteiro fala de Deus, e, se fala também do homem e do mundo, assim o faz pela relação que eles têm com Deus. Os artigos do Credo dependem todos do primeiro, da mesma forma que os mandamentos explicitam o primeiro deles. Os demais artigos nos fazem conhecer melhor a Deus tal como se revelou progressivamente aos homens. "Os fiéis fazem primeiro profissão de crer em Deus".


I. "Creio em um só Deus"

                              200) É com estas palavras que começa o Símbolo niceno-constantinopolitano. A confissão da Unicidade de Deus, que tem sua raiz na Revelação Divina da Antiga Aliança, é inseparável da confissão da existência de Deus, e igualmente fundamental. Deus é único, só existe um Deus. "A fé cristã confessa que há Um só Deus, por natureza, por substância e por essência."

                              201) A Israel, seu eleito, Deus revelou-se como o Único: "Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor! Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força" (Dt 6,4-5). Por meio dos profetas, Deus chama Israel e todas as nações a se voltarem para Ele, o Único: "Voltai-vos para mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e não há nenhum outro!... Com efeito diante de mim se dobrará todo joelho, toda língua há de Me confessar, dizendo: Só no Senhor há justiça e força" (Is 45, 22; Fl 2, 10-11).

                              202) Jesus mesmo confirma que Deus é "o único Senhor" e que é preciso amá-Lo de todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças (Mc 12, 29). Ao mesmo tempo, dá a entender que ele mesmo é "o Senhor" (Mc 12, 35). Confessar que "Jesus é Senhor" é o específico da fé cristã. Isso não contraria a fé no Deus único. Da mesma forma, crer no Espírito Santo "que é o Senhor e dá a Vida" não introduz nenhuma divisão no Deus único:

Cremos firmemente e afirmamos simplesmente que há um só verdadeiro Deus eterno, imenso e imutável, incompreensível, Todo-Poderoso e inefável, que é Pai, Filho e Espírito Santo: Três Pessoas, mas uma Essência, uma Substância ou Natureza absolutamente simples.


II. Deus revela seu nome

                              203) A seu povo, Israel, Deus revelou-se, dando-lhe a conhecer o seu nome. O nome exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido de sua vida. Deus tem um nome. Ele não é uma força anônima. Desvendar o próprio nome é dar-se a conhecer aos outros; é, de certo modo, entregar-se a si mesmo, tornando-se acessível, capaz de ser conhecido mais intimamente e de ser chamado pessoalmente.

                              204) Deus revelou-se progressivamente a seu povo e com diversos nomes, mas é a revelação do nome divino feita a Moisés na teofania da sarça ardente, pouco antes do Êxodo e da Aliança do Sinai, que se tornou a revelação fundamental para a Antiga e a Nova Aliança.


O DEUS VIVO

                              205) Deus chama Moisés do meio de uma sarça que queima sem consumir-se. Ele diz a Moisés: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó" (Ex 3,6). Deus é o Deus dos pais, Aquele que havia guiado os patriarcas em suas peregrinações. Ele é o Deus fiel e compassivo que se lembra deles e de suas próprias promessas; vem para libertar seus descendentes da escravidão. Ele é o Deus que, para além do espaço e do tempo, pode e quer fazê-lo, e que colocará sua onipotência em ação a serviço desse projeto.


"Eu sou AQUELE QUE É”

Moisés disse a Deus: "Quando eu for aos filhos de Israel e disser: 'O Deus de vossos pais me enviou até vós', e me perguntarem: 'Qual é o seu nome?', o que direi?" Disse Deus a Moisés: "Eu sou AQUELE QUE É". Disse mais: "Assim dirás aos filhos de Israel: “EU SOU me enviou até vós”... Este é o meu nome para sempre, e esta será a minha lembrança de geração em geração (Ex 3,13-15).



                              206) Ao revelar seu nome misterioso de YaHVeH, "Eu sou AQUELE QUE É" ou "Eu Sou Aquele que SOU" ou também "Eu sou Quem sou", Deus declara quem Ele é e com que nome se deve chamá-lo. Este nome divino é misterioso como Deus é mistério. Ele é ao mesmo tempo um nome revelado e como que a recusa de um nome, e é por isso mesmo que exprime da melhor forma a realidade de Deus como ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: ele é o "Deus escondido" (Is 45,15), seu nome é inefável (Jz 13, 18), mas também é o Deus que se faz próximo dos homens.



                              207) Ao revelar seu nome, Deus, revela ao mesmo tempo sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida tanto para o passado ("Eu sou o Deus de teus pais", Ex 3,6) como para o futuro ("Eu estarei contigo", Ex 3,12). Deus, que revela seu nome como "Eu sou", revela-se como o Deus que está sempre presente junto a seu povo para salvá-lo.

                              208) Diante da presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre sua pequenez. Diante da sarça ardente, Moisés tira as sandálias e cobre o rosto (Ex 3, 5-6) em face da Santidade Divina. Diante da glória de Deus três vezes santo, Isaias exclama: "Ai de mim, estou perdido! Com efeito, sou um homem de lábios impuros” (Is 6,5). Diante dos sinais divinos que Jesus faz, Pedro exclama "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador" (Lc 5,8). Mas porque Deus é santo, pode perdoar o homem que se descobre pecador diante dele: "Não executarei o ardor da minha ira... porque sou Deus e não homem, eu sou santo no meio de ti” (Os 11,9). O apóstolo João dirá: "Se nosso coração nos acusa, diante Dele tranqüilizaremos nosso coração, porque Deus é maior do que nosso coração e conhece todas as coisas" (1Jo 3,19-20).

                              209) Por respeito à santidade de Deus, o povo de Israel não pronuncia seu nome. Na leitura da Sagrada Escritura, o nome revelado é substituído pelo título divino "Senhor" ("Adonai", em hebraico, e "Kýrios", em grego). É com este título que deve ser aclamada a divindade de Jesus: "Jesus é Senhor" (1 Cor 2, 8; 1 Cor 12, 3; 1 Cor 16, 22; Mt 22, 41-46; Mt 8, 2; Mt 14, 30; Mt 15, 22; Lc 1, 43; Lc 2, 11; Mc 12, 17; Jo 13, 13; At 2, 34-36; At 5, 29; Hb 1, 13; Rm 9, 5; Rm 10, 9; Tt 2, 13; Fl 2, 11; Ap 2, 20; Ap 5, 13; Ap 11, 15).


"DEUS DE TERNURA E DE COMPAIXÃO"

                              210) Depois do pecado de Israel, que se desviou de Deus para adorar o bezerro de ouro (Ex 32), Deus ouve a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio de um povo infiel, manifestando, assim o seu amor (Ex 33, 12-17). A Moisés, que pede para ver sua glória, Deus responde: "Farei passar diante de ti toda a minha beleza e diante de ti pronunciarei o nome de Iahweh" (Ex 33,18-19). E o Senhor passa diante de Moisés e proclama: "Iahweh, Iahweh, Deus de ternura e de compaixão, lento para a cólera e rico em amor e fidelidade" (Ex 34,6). Moisés confessa então que o Senhor é um Deus que perdoa (Ex 34, 9).

                              211) O Nome divino "Eu sou" ou "Ele é" exprime a fidelidade de Deus, que, apesar da infidelidade do pecado dos homens e do castigo que ele merece, "guarda seu amor a milhares" (Ex 34,7). Deus revela que é "rico em misericórdia" (Ef 2,4), indo até o ponto de dar seu próprio Filho. Ao dar sua vida para libertar-nos do pecado, Jesus revelará que ele mesmo traz o Nome divino: "Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que “EU SOU" (Jo 8,28).



SÓ DEUS É

                              212) Ao longo dos séculos, a fé de Israel pôde desenvolver e aprofundar as riquezas contidas na revelação do nome divino. Deus é único, fora dele não há deuses (Is 44, 6). Transcende o mundo e a história. Foi Ele quem fez o céu e a terra: "Eles perecem, mas tu permaneces; todos ficam gastos como a roupa... mas tu existes, e teus anos jamais findarão!" (§ 1102, 27-28). Nele "não há mudança, nem sombra de variação" (Tg 1,17). Ele é "AQUELE QUE É", desde sempre e para sempre, e é assim que permanece sempre fiel a si mesmo e às suas promessas.

                              213) A revelação do nome inefável "EU SOU AQUELE QUE SOU" contém, pois, a verdade de que só Deus é. E neste sentido que a tradução dos Setenta e, na esteira deles, a Tradição da Igreja compreenderam o nome divino: Deus é a plenitude do Ser e de toda perfeição, sem origem e sem fim. Ao passo que as criaturas receberam dele todo o seu ser e o seu ter, só Ele é seu próprio Ser, e é por Si mesmo tudo o que é.


III. Deus, "AQUELE QUE É", é Verdade e Amor

                              214) Deus, "Aquele que é", revelou-se a Israel como "Aquele que é rico em amor e em fidelidade" (Ex 34,6). Esses dois termos exprimem de forma condensada as riquezas do nome divino. Em todas as suas obras, Deus mostra sua benevolência, bondade, graça, amor, mas também sua confiabilidade, constância, fidelidade, verdade. "Celebro Teu nome por Teu amor e Verdade" (Sl 138,2). Ele é a Verdade, pois "Deus é Luz, nele não há trevas" (1Jo 1,5), e “Amor", como ensina o apóstolo João (1Jo 4,8).


DEUS É A VERDADE

                              215) "O princípio de tua palavra é a verdade, tuas normas são justiça para sempre" (Sl 119,160). "Sim, Senhor Deus, és tu que és Deus, tuas palavras são verdade" (2Sm 7,28); é por isso que as promessas de Deus sempre se realizam (Dt 7, 9). Deus é a própria Verdade, suas palavras não podem enganar. É por isso que podemos entregar-nos com toda a confiança à verdade e à fidelidade de sua palavra em todas as coisas. O começo do pecado e da queda do homem foi uma mentira do tentador que induziu duvidar da palavra de Deus, de sua benevolência e fidelidade.

                              216) A verdade de Deus é sua sabedoria que comanda toda ordem da criação e do governo do mundo (Sb 13). Deus, que sozinho criou o céu e a terra (Sl 115, 15), é o único que pode dar o conhecimento verdadeiro de toda coisa criada e de sua relação com Ele (Sb 7, 17-21).



                              217) Deus é verdadeiro também quando se revela: o ensinamento que vem de Deus é "uma doutrina de verdade" (Ml 2,6). Quando Ele enviar seu Filho ao mundo, será "para dar testemunho da Verdade" (Jo 18,37): "Nós sabemos (...) que veio o Filho de Deus e nos deu o entendimento para conhecermos o Verdadeiro (1Jo 5, 20; Jo 17, 3)".


DEUS É AMOR

                              218) Ao longo de sua história, Israel pôde descobrir que Deus tinha uma única razão para revelar-Se a ele e para tê-lo escolhido dentre todos os povos para ser Dele: seu amor gratuito (Dt 4, 37; Dt 7, 8; Dt 19, 15). E Israel entendeu, graças a seus profetas, que foi também por amor que Deus não cessou de salvá-1o (Is 43) e de perdoar-lhe sua infidelidade e seus pecados.

                             219) O amor de Deus por Israel é comparado ao amor de um pai por seu filho (Os 11, 1). Este amor é mais forte que o amor de uma mãe por seus filhos (Is 49, 14-15). Deus ama seu Povo mais do que um esposo ama sua bem-amada (Is 62, 4-5); este amor se sobrepor até às piores infidelidades; ir até a mais preciosa doação: "Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único" (Jo 3,16).

                              220) O amor de Deus é "eterno" (Is 54,8): "Os montes podem mudar de lugar, e as colinas podem abalar-se, mas o Meu amor não mudará" (Is 54,10). "Eu te amei com um amor eterno, conservei por ti o amor" (Jr 31,3).

                              221) Mas São João vai ainda mais longe ao afirmar: "Deus é Amor" (1Jo 4,8.16); o próprio Ser de Deus é Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempos, seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela Seu segredo mais íntimo (1 Cor 2, 7-16; Ef 3, 9-12): Ele mesmo é eternamente intercâmbio de amor: Pai, Filho e Espírito Santo, e destinou-nos a participar deste intercâmbio.


IV. O alcance da fé no Deus Único

                              222) Crer em Deus, o Único, e amá-Lo com todo o próprio ser em conseqüências imensas para toda a nossa vida:

                              223) Significa conhecer a grandeza e a majestade de Deus. "Deus, é grande demais para que o possamos conhecer" (Jó 36,26). E por isso que Deus deve ser o "primeiro a ser servido".(Santa Joana d’Arc, dictum).

                              224) Significa viver em ação de graças. Se Deus é o Único, tudo o que somos e tudo o que possuímos vem Dele: "Que é que possuis, que não tenhas recebido?" (1Cor 4,7). "Como retribuirei ao Senhor todo o bem que me fez?" (Sl 116,12).

                              225) Significa conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens. Todos eles são feitos "à imagem e à semelhança de Deus" (Gn 1,27).

                              226) Significa usar corretamente das coisas criadas. A fé no Deus único nos leva a usar de tudo o que não é Ele, na medida em que isso nos aproxima Dele, e a desapegar-nos das coisas, na medida em que nos desviam Dele (Mt 5, 29-30; Mt 16, 24; Mt 19, 23).

"Meu Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que me afasta de vós.
Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós.
Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo, para
que eu me dê todo a Ti." (Oração de São Nicolau de Flüe)



                              227) Significa confiar em Deus em qualquer circunstancia, mesmo na adversidade. Uma oração de Sta. Teresa de Jesus exprime-o de maneira admirável:

"Nada te perturbe.
Nada te assuste.
Tudo passa.
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem,
Nada lhe falta.
Só Deus basta."



RESUMINDO


                              228) "Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o Único Senhor...”. (Dt 6,4; Mc 12,29). "É preciso necessariamente que o supremo seja O único, isto é, sem igual... Se Deus não for o único não é Deus (Tertuliano)."

                              229) A fé em Deus leva-nos a nos voltar só para Ele como nossa primeira origem e nosso fim último, e a nada preferir, nem substitui-Lo por nada.

                              230) Ao revelar-se, Deus permanece Mistério inefável: "Se o compreendesses, ele não seria Deus (St. Agostinho)".

                              231) O Deus de nossa fé revelou-se como "Aquele que é"; deu-se a conhecer como "cheio de amor e fidelidade" (Ex 34,6). Seu próprio ser é Verdade e Amor.




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4 comentários:

- Mizi - disse...

O texto catequético faz menção especial a dois símbolos principais, os quais são os mais usados pela Igreja. Trata-se dos "símbolos niceno-constantinopolitano" e o "símbolo dos apóstolos".

Segundo o post, o símbolo mais utilizado nas liturgias é o símbolo apostólico, por ser de memorização mais fácil. No entanto, a explicação catequética frequentemente faz menção às fórmulas de ambos os símbolos, até porque o símbolo niceno, por ser posterior, é mais completo e profundo que o tradicional, incluindo a declaração expressa da divindade de Cristo e da do Espírito Santo, sendo aceito tanto pela Igreja Ocidental quanto pela Ortodoxa.

Como a explicação catequética é feita artigo por artigo, podemos perder a noção da inteireza do símbolo, já que levará muitos posts até que se conclua toda a catequese sobre o símbolo cristão. Para se ter uma idéia da totalidade do símbolo católico, transcreverei aqui na íntegra os dois símbolos mais utilizados pela Igreja, ou seja, o "niceno-constantinopolitano" e o "apostólico".

Muitos já conhecem o símbolo. Mas, para quem não conhece, segue nos comentários seguintes as transcrições do nosso "CREIO" ou "CREDO", como é mais comumente conhecido.

- Mizi - disse...

"Credo niceno-constantinopolitano"

VERSÃO LATINA

Credo in unum Deum,
Patrem omnipoténtem,
Factórem cæli et terræ,
Visibílium ómnium et invisibílium. Et in unum Dóminum Iesum Christum, Fílium Dei Unigénitum,
Et ex Patre natum ante ómnia sæcula.
Deum de Deo,
Lumen de Lúmine,
Deum verum de Deo vero,
Génitum, non factum, consubstantiálem Patri:
Per quem ómnia facta sunt.
Qui propter nos hómines et propter nostram salútem
Descéndit de cælis.
Et incarnátus est de Spíritu Sancto Ex María Vírgine, et homo factus est.
Crucifíxus étiam pro nobis sub Póntio Piláto;
Passus, et sepúltus est,
Et resurréxit tértia die, secúndum Scriptúras,
Et ascéndit in cælum, sedet ad déxteram Patris.
Et íterum ventúrus est cum glória, Iudicáre vivos et mórtuos,
Cuius regni non erit finis.
Et in Spíritum Sanctum,
Dóminum et vivificántem:
Qui ex Patre Filióque procédit. Qui cum Patre et Fílio simul adorátur et conglorificátur:
Qui locútus est per prophétas.
Et unam, sanctam, cathólicam et apostólicam Ecclésiam.
Confíteor unum baptísma in remissiónem peccatorum.
Et expecto resurrectionem mortuorum,
Et vitam ventúri sæculi.
Amen



"Credo niceno-constantinopolitano.

Tradução em português:

Creio em um só Deus,
Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus,
Luz da luz,
Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro,
Gerado, e não criado, Consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E, por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus:
Se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras;
E subiu aos céus, onde está assentado à direita de Deus Pai,
Donde há de vir, em glória, para julgar os vivos e os mortos;
e o Seu reino não terá fim.
Creio no Espírito Santo, Senhor e fonte da Vida,
Que procede do Pai e do Filho,
E com o Pai e o Filho é adorado e glorificado:
Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.
Confesso um só batismo para remissão dos pecados.
Espero a ressurreição dos mortos
E a Vida do mundo que há de vir. Amém.

- Mizi - disse...

"Símbolo Apostólico"

Credo in Deum Patrem omnipotentem, Creatorem caeli et terrae,
Et in Iesum Christum,
Filium Eius unicum,
Dominum nostrum,
Qui conceptus est de Spiritu Sancto, natus ex Maria Virgine,
Passus sub Pontio Pilato,
Crucifixus, mortuus, et sepultus,
Descendit ad ínferos,
Tertia die resurrexit a mortuis,
Ascendit ad caelos,
Sedet ad dexteram Dei Patris omnipotentis,
Inde venturus est iudicare vivos et mortuos.
Credo in Spiritum Sanctum,
Sanctam Ecclesiam catholicam, Sanctorum communionem,
Remissionem peccatorum,
Carnis resurrectionem,
Vitam aeternam.
Amen.



Símbolo apostólico (creio/credo tracional, já dividido em seus 12 artigos):

1. Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra;

2. e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,

3. que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria;

4. padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;

5. desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia;

6. subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,

7. de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

8. Creio no Espírito Santo,

9. na Santa Igreja católica, na comunhão dos Santos,

10. na remissão dos pecados,

11. na ressurreição da carne,

12. na vida eterna.

Amém.

- Mizi - disse...

"Símbolo Luterano"

(Obs.: formulado por Lutero no berço do protestantismo. A diferença é que Lutero dividia em três artigos, lembrando a Santíssima Trindade, o que também serve para a versão apostólica, já que um não anula o outro, e como a própria catequese afirma, o símbolo inteiro é sobre Deus):


1º artigo (da criação)

Creio em Deus Pai, todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.

2º artigo (da salvação)

E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor,
o qual foi concebido pelo Espírito Santo,
nasceu da virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu ao mundo dos mortos,
ressuscitou no terceiro dia,
subiu ao céu,
e está sentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso,
de onde virá para julgar os vivos e os mortos.

3º artigo (da santificação)

Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja cristã,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição do corpo
e na vida eterna.
Amém.


Obs.2: Como podem observar, o protesto era contra a instituição Católica, e não contra a doutrina Católica. Infelizmente, hoje em dia o protestantismo ultrapassou o intuito de "apesar protestar" contra o "institucionalismo" da Igreja, posto que estão se afastando cada vez mais dos ensinamentos originais e formulando teologias próprias, apenas como forma de firmação de autoridade autônoma, mesmo que todas as pendências que originaram o movimento separatista já estejam atualmente superados. A cristandade vive uma crise de fé, e quase não há consenso.

Diante do quadro, só nos cabe orar: Que o Espírito Santo nos ilumine e conduza o nosso entendimento. Amém.