domingo, 20 de julho de 2008

Dividir para Unir - Parte III

Os Três Planos do Todo.


                             Vimos, na edição passada, sobre o Infinito Todo. Aprendemos o princípio fundamental da espiritualidade, que nos informa que "O Todo é incognoscível". Aprendemos que nada pode ser dito a respeito do Todo além daquilo que nos é dado a conhecer por Ele mesmo, gradualmente, conforme nossa própria evolução espiritual. E aprendemos, enfim, que por mais que estejamos deveras evoluídos espiritualmente, mentalmente e materialmente, o Todo sempre será o Todo e, portanto, um mistério inefável, intangível, separado e distante. O Infinito não nos é alcançável. A cada passo em frente, estamos igualmente distantes, mas inegavelmente mais próximos.
                             Na Verdade, veremos mais para frente, em nossas futuras explanações, que tal separação misteriosa não nos é fatal e, de certo modo, não nos é imposta como realidade absoluta e inquebrantável, pois a Onipresença nos envolve e nos cobre com sua graça. Veremos que, mesmo separados, tal separação nunca existiu, pois, em um ato de misericórdia, o Todo quis permanecer conosco até o fim. A Separação nos Une para sempre, e todos nós somos partes do grande Todo, sem, no entanto, fazer propriamente parte do grande Todo (pois não Lhe acrescentamos, nem Lhe retiramos substância. Não Lhe definimos a natureza). Poderíamos, para tentar amenizar o mistério do Infinito, especular que o Todo nos forma por dentro, essencialmente, mas não é formado por nós. Não somos nós que O formamos, mas sim Ele que nos forma, de alguma maneira misteriosa, que se faz eternamente presente em nossos seres. É dessa forma que o Todo se deixa participar, estando unido a nós, mesmo sendo inalcançável, infinito, completo em si mesmo. Veremos, enfim, que a dualidade e a separação é uma condição imposta apenas pela matéria e pela mente, pois o Espírito faz-nos participar da vida Eterna e nos Reunifica em estado de plena comunhão. A unidade espiritual sempre existiu, independentemente do mistério da intangibilidade, da Separação do grande Todo e da Infinitude do único Ser que verdadeiramente É.
                             Por fim, aprendemos que, em última análise, tal paradoxo divino da dualidade e da separação estar comungada com o monismo e a união é o grande mistério secreto da Onipresença divina, que não nos é possível compreender intelectualmente, mas apenas sentir espiritualmente. Os sábios e iluminados nos convidam apenas a contemplar e vivenciar a Verdade Divina, sem que nos debrucemos inutilmente sobre horas e horas de filosofia lógica e racional. Se há um Deus que, por amor, se deixa revelar, o mesmo Deus quis que, para nós, algumas coisas fossem simplesmente secretas e inalcançáveis, para justamente despertar em nós a Fé e o Amor, que, esses sim, são capazes de nos unir em definitivo com o Espírito Divino. Muitos sábios nos dizem: "Não se compreende a Deus; a gente O ama". Contemplemos sempre em nossas vidas, portanto, o mistério divino, e despertemos em nós a chama do Amor que não se apaga. Assim, driblaremos a separação ilusória e estaremos em comunhão com o Espírito da Verdade, que nos faz participar da Vida Eterna, e cujo prazer é nos revelar espiritualmente os mistérios impassíveis de compreensão intelectual.
                             Visto o princípio fundamental da espiritualidade, podemos adentrar, sem medo, nas verdades que o Espírito de Deus nos permitiu conhecer, para o nosso bem e nossa salvação. Você que está sentado aí em frente a esse computador deve estar pensando sobre a Realidade, sobre as coisas do mundo, sobre onde podemos encontrar esse Deus, que nunca se mostra evidentemente, que se esconde dos olhos humanos, que se oculta em mistérios inefáveis. Você, então, deve estar pensando: "não posso compreender que tipo de religiosidade é essa. Se há alguma Realidade, a única que há é esta que eu posso tocar, sentir e experimentar com meus sentidos, e, definitivamente, não há outra." No entanto, caro amigo, digo que está errado. Os sentidos enganam, as coisas do mundo, apesar de aparentemente reais, são vazias de forma, são ilusões, são sombras, são meras aparências, que só nos apresentam como verdadeiras pelo fato de a essência divina habitar em seus âmagos e lhes nutrir com a corrente da vida. Sem o Espírito divino, no entanto, todas essas coisas que existem deixam de existir e decaem. Voltam ao pó. Se aprendemos que o Todo é infinito e não tem fim, devemos concluir que esta nossa realidade material e tangível não é a Verdadeira realidade, pois a Verdadeira realidade é a única Verdade que É, e Esta é Infinita, não tendo começo nem fim. Portanto, este nosso mundo aparente é ilusório, e não Verdadeiro.
                             Para além da materialidade existente na realidade tangível, existem outras realidades mais verdadeiras e menos tangíveis pelos sentidos biológicos. É sobre tais realidades que desejo vos falar neste momento. Em verdade, a palavra realidade é muito inadequada para ser aplicada ao caso, pois eu concordaria veementemente que este nosso mundo material, apesar de ilusório, é a única realidade existente, pois a realidade é um plano no qual as coisas possuem existência finita, ilusória e limitada, como o próprio nome já diz. A palavra realidade deriva da raiz latina res, que significa "coisa". O Real, portanto, é aquilo que tem existência material, tangível, tocável, visível. A realidade é o que denomino "o plano da res", ou "o plano das coisas". É inegável que o mundo é a única realidade que existe. Basta olhar ao redor e ver que outra não há. Mas eu nunca concordaria que a realidade é o único plano pertencente ao Todo. O fato de ser efêmero e ilusório nos demonstra que a realidade é o mais baixo e grosseiro nível ou plano de vibração no Todo. Além do plano da realidade, que é o plano inferior, podemos citar a mentalidade, que é o plano intermediário, e a Verdade, que é o plano superior. A misericórdia divina, portanto, nos revelou e confiou o segredo da existência dos três planos que permeiam o Todo. Por meio de tal conhecimento, estamos aptos a reconhecer quais de nossas ações são mais ou menos ilusórias, e quais são mais ou menos verdadeiras. Por meio de um outro princípio que abordaremos, o da "correspondência", veremos que podemos transformar nossas ações tipicamente reais e materiais em vibrações essenciais e verdadeiras, e vice-versa. Tal é o poder que nos ascende em direção à evolução e à União com o Divino. Mas, para tanto, devemos aprender a reconhecer os Três planos principais do Grande Todo.
                             Com efeito, os nomes dados aos planos aqui por mim é uma característica do meu pensamento individual, pois foi assim que tal revelação me apareceu. No entanto, a verdade dos três planos tem aparecido sob muitas outras formas e roupagens durante a história da humanidade, recebendo outros nomes e denominações diferentes. Mas como veremos, o nome é apenas uma identificação, e, assim como toda identificação, é também ilusório. Não é o nome que determina a natureza, pois, caso contrário, bastaríamos chamar as coisas pelos nomes contrários que elas deixariam de ser o que são. Dessa forma, vale lembrar que muitas correntes místicas dividem os planos em muito mais de apenas três, dão-lhes diversos nomes, mas, em essência, estão todos querendo falar sobre o mesmo mistério revelado.
                             Talvez, antes de abordarmos diretamente o tema dos três planos, devêssemos deixar claro o que quer se dizer com a palavra "plano". O que é um plano? Já vimos que não é uma realidade, pois esta é apenas mais um tipo de plano. Muitas pessoas, ao longo do tempo, tentaram explicar qual é a natureza de um plano, mas poucas são eficazes ao passo que se utilizam sempre de exemplos físicos e materiais. A explicação mais coerente é aquela que se refere aos níveis de vibração da energia divina. No entanto, não estamos falando aqui da energia elétrica, térmica ou qualquer outro tipo de energia reconhecida pela física como quantificável e tangível. Estamos falando de energia numa qualidade transcendental, ao qual os iluminados, sabiamente, denominam "Essência" ou "Espírito Divino". O Todo, para nosso entendimento limitado do que venha a ser os planos, se compara a um grande poço, ou fonte, de essência divina, que está sempre se derramando e se recebendo num interminável fluxo "energético". Quanto mais próximo do poço, mais vibração possui a energia, ou seja, mais vibra a essência. Quanto mais afastado do poço, da fonte, menos vibração possui a essência. Portanto, os planos são definidos em níveis de vibração de essência espiritual no grande fluxo de energia que, misteriosamente, brota do Todo e a Ele retorna. Nessa perspectiva, a Realidade é o estado mais bruto da energia divina, ou seja, o plano em que apresenta os mais baixos níveis de vibração de essência. A matéria, com efeito, não passa de uma energia aprisionada, uma essência contida, estagnada. Conforme evoluímos, aprendemos a mudar os níveis de vibração em nossos seres, transmigrando de um plano para outro do Todo, aplicando o princípio da correspondência. Podemos, então, dizer que há Três níveis principais de vibração de essência, e tais níveis de vibração é o parâmetro de comparação que usarei para definir o que vem a ser os Três planos do Todo.
                             Começando de cima, o plano superior é representado pela Verdade, e possui a mais alta afinidade com a fonte divina, com o Todo em si mesmo, possuindo a mais alta vibração essencial. Em termos de comparação, a Verdade é a própria essência em si mesma, infinita, inseparável, pura, em alta vibração, podendo, sem erro algum, ser chamada de Espírito em si. Ninguém sabe onde começa e onde termina o Espírito, de modo que o mesmo se confunde essencialmente com o próprio mistério do Todo. Portanto, tudo que é dito sobre o Todo é dito sobre o Espírito. O plano superior, ou o plano da Verdade, é o Espírito: mistério e Verdade do Todo.




                             Num nível mais abaixo, situa-se o plano intermediário, que convencionei chamar de Mente ou Alma. A Alma é o plano que está sempre intermediando as relações entre a Verdade e a Realidade, ou seja, entre o Espírito e o Corpo. A Alma é a responsável por perceber as coisas da realidade e por manifestar as coisas do Espírito. Ela é a grande conciliadora, é a que nos permite falar sobre o Espírito e reconhecê-Lo imanente nas suas criaturas materiais. A Mente é o que propriamente nos dá "animosidade". Mas por estar num nível intermediário, a mente não é nem Verdade pura, nem Realidade pura, sendo em parte Verdade, em parte Ilusão. É o plano mais complexo de se conceituar, pois possui natureza "sui generis", híbrida. É um grande instrumento de utilização prática (real) e mística (essencial). A Mente tem, dessa forma, imenso poder, podendo ser usada como um instrumento tanto de libertação quanto de aprisionamento. No entanto, mesmo perante a dificuldade de conceituar o plano mental, podemos ter a certeza empírica da efemeridade da Mente, dos pensamentos e dos sentimentos. Tal fato nos atesta que, mesmo num plano de vibração mediano, a alma é passageira e, portanto, tem fim. É efêmera. É ilusória. Apenas a Mente de Deus é eterna, pois é a gestora infinita (a eternidade da Mente de Deus é outro mistério do paradoxo divino que está inserido na característica incognoscível do Todo).





                             Por fim, chegamos ao plano inferior, que é a Realidade como a conhecemos. Nesse plano, a essência divina encontra o mais baixo nível de vibração, o que determina as inquebrantáveis leis da física, da química e da biologia. Não é necessário falar muito sobre a Realidade, pois o mundo material já nos é muito peculiar. É aqui neste plano que todas as coisas vindas do alto são manifestadas e ganham formas, nomes, cores, substâncias, preenchendo um espaço no universo e ocupando um lapso de tempo da linha cronológica. Trata-se do mundo fenomenológico, realidade manifestada, "realizada", tornada real, concreta, mas irremediavelmente ilusória. Nosso mundo é governado por leis específicas. As leis do mundo material são próprias do mundo material, não podendo ser burladas, nem anuladas. A única coisa que podemos fazer é aplicar uma lei de hierarquia superior sobre uma lei de hierarquia inferior, mas nunca anular as leis, pois estas são próprias de cada nível de vibração, de cada plano do Todo. Mesmo através da imposição de leis hierarquicamente superiores, as mudanças nos padrões de vibração são extremamente complicadas, pois exigem contato direto com o fluxo de essência que desce da fonte, fazendo retornar tal fluxo para a fonte de onde veio.





                             O objetivo de todo buscador é encontrar os métodos por meio dos quais possa aplicar as leis superiores às leis inferiores e transmutar os níveis de vibração, podendo, assim, evoluir espiritualmente. Tais métodos formam um conjunto de princípios básicos e rigorosos que devem ser encontrados individualmente por cada pessoa, formando o que chamamos de caminho. Existem vários caminhos, pois cada pessoa trilha por sua própria vereda, no entanto, só há uma única Verdade, e todos os caminhos dignos de nota deverão conduzir a esse destino derradeiro, sob pena de serem caminhos ilusórios. O que é Verdadeiro provém da Verdade e retorna para a Verdade, e essa é a verdadeira via. É "O Caminho". Qualquer outro tipo de caminho, de trilha, que não venha da Verdade, nem a Ela retorne, deve ser imediatamente abandonada. Infelizmente, os métodos de verificações de validade dos caminhos são tão pessoais quantos os critérios que os formulam. Portanto, cabe à própria pessoa experimentar e tentar discernir, com o pedido de ajuda do próprio Espírito, se o caminho que está trilhando o leva, de fato, ao reencontro com seu bem-amado. Não há fórmulas mágicas, nem certezas infalíveis. A única Verdade que se pode afirmar é que o Caminho é Deus, Ele próprio, pois Dele vem e a Ele retorna. Se a pessoa encontrou a Deus verdadeiramente, então ele está no caminho correto.
                             Os Três planos do Todo são a Realidade, a Mentalidade e a Verdade, também denominadas e reconhecidas simplesmente como Matéria, Mente e Essência, ou ainda, Corpo, Alma e Espírito. Por hora, basta o acima explanado. Em nova oportunidade, é-nos válido abordar com mais detalhes cada um dos planos e suas características. Então, até o próximo encontro.


"Que a paz de Deus possa estar sempre em nossos corações, nos ensinando a viver conforme o mesmo Espírito."

(Continua...)

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