domingo, 23 de novembro de 2008

Unidade, Onipresença e Panteísmo - Parte Final


                             Uma confusão comum na cabeça das pessoas, que talvez prejudique a compreensão da diferença entre a Onipresença e o Panteísmo, é a confusão entre a "Unidade Divina" e a "Unidade das Criaturas".


"Deus é Tudo”         X         "Tudo é Deus".



                             A confusão é lingüística. A maioria dos textos que tratam sobre a Onipresença Divina são traduzidos do inglês, e não estamos acostumados com isso. O "TO BE" em inglês é um verbo que significa tanto SER quanto ESTAR... É aí que a confusão começa operar na cabeça do falante de língua latina. Pois, para as línguas derivadas do latim, como o Português, SER e ESTAR são coisas bem distintas. Se as pessoas observassem uma melhor forma de tradução, não só o entendimento dessa questão espiritual da Unidade melhoraria, como também os desentendimentos acerca desse tema desapareceriam... Eu entendo que a maioria desses textos use os verbos SER e ESTAR indiscriminadamente significando a mesma coisa. O que para eles (os que falam inglês) faz todo o sentido, mas para nós (que não falamos inglês), não.

                             Outra coisa que prejudica o entendimento da Onipresença em prol de favorecer o entendimento panteísta é igualar as leis da matéria ao âmbito espiritual também, pois é um erro que dificulta muito o entendimento daquilo que vem a ser a "UNIDADE-DIVERSA", ou "Universo". No mundo material, apenas um corpo ocupa um lugar num determinado tempo. No mundo espiritual, dois (ou mais) podem ocupar o mesmo "lugar", inclusive "ao mesmo tempo", num mesmo plano de “existência” (por assim dizer). Basta observar que a concepção de "lugar" e "tempo" sequer existe em se tratando de plano Espiritual. Ou seja, não é necessário que um espírito “deixe de ser” para que o outro “seja” nele, e ele seja no outro. É um fenômeno inverso ao que ocorre no plano mental, onde é necessário que a mente do homem “deixe de existir” para que a Mente de Deus “exista nele”. Pois mentes obedecem à lei da materialidade, assim como apenas um corpo pode ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Com a Mente, também é assim: só uma pode ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo. Assim, ou a mente do homem existe, ou a Mente de Deus existe.

                             No entanto, no plano espiritual, não é assim. Lá não há “tempo”, lá não há “espaço”. Lá, Deus não compete por espaço. Ele pode estar em todos os “espaços individuais”, sem que estes deixem de estar em si mesmos. É assim que Deus se faz Onipresente, pois seu Espírito não compete por "lugar" ou "tempo" algum, não precisando "expulsar" ninguém de si mesmo para já estar PRESENTE, o que faz com que o diverso continue existindo tanto materialmente quanto espiritualmente, pois a individualidade é mantida também no plano espiritual, muito embora a identidade (mente) se desfaça. Na comunhão há sempre "dois" (ou vários): um "eu" e um "Deus". Mas ocupando o mesmo "lugar" e "tempo" (o que é um absurdo para a Física fenomenológica, mas não para a "Física espiritual"). Mas para que esse Deus ocupe o lugar desse “eu”, este “eu” precisa estar "vazio" (de mente), sem precisar deixar de "ser ele mesmo" (espírito individual), de modo que permaneçam eternamente juntos em plenitude e eternidade, mas separados em núcleos de essência própria (cada um continuando a ser um espírito individual em si mesmo).

                             A Unidade se estabelece mesmo em "diversidade-espiritual", sem dissolvê-la. Esse é o sentido da comunhão entre Criador e criatura, sem que o Criador deixe de ser Criador, e sem que a criatura deixe de ser criatura. Ambos juntos, em Unidade de essência, de Ser, de natureza, de desígnios (consciência), mas ambos mantendo suas "individualidades". É necessário entender que não estou falando em identidades, pois enquanto há uma identidade, há um ego. No entanto, ego não é igual a “eu”. Ego é identidade, é uma falsa impressão do “eu”. Já o “eu” é aquele que sempre existiu, a essência pessoal de cada um, que é criada por Deus em igual substância e natureza (ou seja, idêntica à substância e natureza divina), porém nunca retirada de Deus, de modo que Deus não se diminui, nem se acrescenta, não se divide ou se parte (por causa de nós). Nós não somos partes de Deus, muito menos retiramos ou acrescentamos algo ao seu imenso Ser. Simplesmente isto: nós temos nosso próprio ser (que foi criado por Deus), e Deus tem seu próprio Ser (que é o Ser Supremo, a fonte dos nossos “seres”). E isso é um mistério divino. Não nos cabe entender "como" Deus cria. Mas sabemos que não somos partes de Deus, ou seja, não Lhe diminuímos ou Lhe acrescentamos nada, pois Ele já é o Todo em si mesmo, permanecendo em plenitude e eternidade. Mas de uma coisa sabemos: somos criados por Deus, e somos inteiramente novos e únicos em toda a Criação. Não há outro espírito igual a nós em lugar nenhum do "Universo". E aí está o outro mistério da Onipresença: somos "únicos", e ao mesmo tempo "um".

                             Somos iguais em natureza, mas individuais em escalas de proporção, tanto entre nós, criaturas, quanto entre nós e Deus, Criador. É como se fôssemos uma gota de água, e Deus fosse o Oceano. A gota é gota. Oceano é Oceano. Mas ambos são da “natureza água”, de modo que se estiverem juntos em unidade de desígnios não haverá diferenciação. Serão Um. A gota se derramou no Oceano; quem poderá dizer qual é qual? No entanto, sabemos que a gota está no Oceano e o Oceano na gota, de modo que podemos dizer exatamente que a gota, embora esteja no Oceano, é apenas uma gota. Embora sejamos distintos em núcleos de individualidade espiritual, somos unos em todos os demais aspectos verdadeiros referentes ao plano espiritual (ou seja, somos feitos à “imagem e semelhança” divina, somos idênticos, somos todos “água”). Tudo o que Deus é eu também sou, exceto o próprio Deus em si (pois eu sou o meu próprio “eu” em mim mesmo, e não o “Eu” de Deus), pois a liberdade que Deus concede a todas as criaturas lança fora a confusão entre individualidades. A gota pode até pensar que é o próprio Oceano em si mesmo quando se derrama Nele, mas ela só é o Oceano por causa do próprio Oceano, e nunca por que é Oceano em si mesma. Em si mesma, ela é apenas uma gota. Não é a gota que define o Oceano, mas o Oceano que define a gota. A verdadeira Liberdade exclui apenas as identidades (os egos, as “gotas coloridas”), mas nunca os "eus" (as individualidades, as “gotas de água pura”).




                             Em última análise, identidade é tudo o que o ego atribui a si mesmo. E quando essa identidade egóica se esvazia, manifestamos a MENTE de Cristo, que é a única identidade verdadeira, a identidade pura. A única Mente de Deus. E com essa Mente “nos identificamos” (nos derramamos). Se partimos do pressuposto que a Mente Divina não tem identidade humana (não tem cor), pois já é em si mesma, podemos dizer que também não temos identidade quando nos esvaziamos de nossos egos e entramos em comunhão com Deus. E esse ponto de vista é uma percepção que faz sumir com a idéia do diverso, pois o diverso é freqüentemente atribuído apenas àquilo que possui muitas identidades (mentais e materiais)... No entanto, há também a diversidade de “seres” (apesar de sermos todos de igual essência). A confusão entre Onipresença e Panteísmo está justamente nessa tênue linha de percepção que faz sumir com a diversidade-espiritual, junto com a diversidade mental e material (como se espírito e matéria fossem a mesma coisa). No entanto, essa percepção é falsa. Em verdade, a Mente de Cristo é a única identidade. E o Ser de Cristo é o único Ser (a única natureza, a única essência), mas não o único Espírito (núcleo de individualidade), pois os nossos espíritos co-existem com o Espírito Supremo no mesmo “lugar” e ao “mesmo tempo”, ou seja, o homem é capaz de Deus. O Homem não é Deus, embora Deus seja o homem, pois não há nada que Deus não seja).



"DEUS É TUDO!"

...mas... tudo é Deus?



                             Nosso ego não pode competir com a Mente de Cristo, pois a Mente faz parte de um plano em que a lei é “espaço” e “tempo”. Desse modo, ou existe a mente egóica, ou existe a Mente de Cristo. Quando uma pessoa está unida a Cristo, desfaz-se de seus próprios entendimentos, de suas próprias Vontades, e passa a viver apenas a vontade de Deus, pois a Mente de Deus não entra em lugares lotados. Ele precisa de um lugar vazio para se alojar (“Eis que estou à porta e bato. Se me abrirem, entrarei e farei minha morada”). Mas se Deus entra, então não há mais necessidade de destruir mais nada. Nossos seres se tornam o receptáculo do Santíssimo, pois nossos espíritos “ocupam” o mesmo “espaço-tempo” que o Espírito de Deus, não destruindo a existência dos “seres”. E nesse mistério reside o paradoxo da comunhão, em que os “seres” (mesmo plúrimos em quantidades) se fazem UNOS (apenas UM em unidade de desígnio, de essência e de natureza).

                             Ambos são UM, mas não deixam de ser "eles mesmos". A consciência una daqueles que não possuem identidade própria, e que permitem que Deus seja sua única identidade, talvez faça parecer que só há Deus (e de fato só há, mas pelo mesmo ponto de vista do ego, pois é ele quem deixa de existir... mas nunca do ponto de vista da consciência, pois ela é mantida por Deus em sua infinita misericórdia quando entramos em comunhão).

                             O problema da questão panteísta não é dizer que "Deus é Tudo" (pois aqui mantemos a coerência com o discurso da Onipresença divina). O problema é inverter as preposições lógicas achando que se está dizendo a mesma coisa. O problema é dizer: "Tudo é Deus". O monismo afirma que “Deus sou eu”, “Deus é você”, “Deus somos todos nós...” "Deus é Tudo”. E mais corretamente “o Tudo EM Todos”. Já o panteísmo inverte a lógica e diz que “EU sou Deus”, “Você É Deus”, e por aí vai... Porém, sabemos que a gota é sempre gota... ela não define o Oceano. Não lhe acrescenta nada, não lhe retira nada. Apenas o Oceano É o Oceano. O monismo diz “O Oceano é a gota” (pois é mais abrangente, englobando-a). O panteísmo inverte e diz “A gota é o Oceano”. Para se manter a coerência do discurso Onipresente, faria mais sentido dizer "A gota está no Oceano”, e não “a gota é o Oceano”. "Eu estou em Deus", "Você está em Deus", "Estamos todos em Deus", e "Deus em Nós", pois seu Imenso Espírito não compete por "espaço" com nossos espíritos. Deus está no Sol, na brisa suave do verão, numa chuva cálida, numa canção, num poema, nas núvens, no milagre de uma mulher grávida, enfim, no Universo inteiro. Ele simplesmente ESTÁ PRESENTE EM TUDO, pois no plano espiritual não é necessário que um espírito desocupe seu lugar para que Deus ocupe seu lugar... Aliás, não há lugar. Não há tempo. Essas concepções de percepção espacial e temporal são aplicáveis apenas a coisas de existência concreta, como o corpo e a mente, mas nunca aplicável ao plano espíritual. E essas diversidades dos planos fenomenológicos não são capazes de excluir a Presença viva de Deus em nossos seres.




                             Só que se o verbo SER for igual ao verbo ESTAR, então essa compreensão fica de certo modo prejudicada. Mas isso tudo, é claro, é outro ponto de vista. Só estou buscando tentar explicar essa “aparente” diferença nos entendimentos, afirmando que tudo isso não passa de diferença lingüística. "Verbo SER, verbo ESTAR." Na essência, todos nós (nossas consciências individuais) sabemos bem o que ocorre quando entramos em comunhão (quando experimentamos o Dom de Deus em nossas vidas). É impossível dizer que não há uma Presença maior do que nós mesmos a nos envolver (por fora, por dentro, pelos lados, em tudo) quando sentimos todo esse ÊXTASE de Amor eterno. Nossas consciências bem sabem que somos os filhinhos queridos (as gotinhas) voltando para os braços do Pai (o Grande Oceano de Misericórdia). E nesses braços nos alojamos e fazemos nossas moradas (E o Pai faz morada em nós, pois nunca precisou competir por espaço espiritual. Só precisava de anuência mental, de aceitação, de uma "porta aberta" pela própria vontade individual: Liberdade concedida a todo espírito de aceitar Deus como seu Criador ou não). Assim, Pai e Filho se tornam Um só. Num abraço eterno.

                             Desse modo, o discurso panteísta só engana mesmo aqueles que estão cheios de ego, mas nunca aqueles que manifestam sua consciência. Pois os egos se enganam... Mas as consciências, nunca. Pois os egos se identificam, querem se identificar com Deus, querem ser o próprio Deus em si mesmo... Mas as consciências sabem que para se identificar com Deus, qualquer tentativa de identificação deve ser destruída, pois a identificação é um fenômeno egóico por definição. A consciência só busca ser humilde e deixar Deus acontecer em sua vida. Ela não se esforça. Ela apenas "abre a porta". Apenas se mantém numa “nuvem de esquecimento”, na qual se depara com Deus de “braços abertos”. Pois sabe que qualquer tentativa, mesmo que aparentemente benéfica, de querer se identificar com a Mente de Deus só gerará o “orgulho” de querer “ser Deus” (a gota querendo ser Oceano). E enquanto ela acreditar nisso, nunca terá a coragem de se abandonar no Verdadeiro Oceano. Acreditará infinitamente que sua pequena gota é o Oceano, não havendo outro Oceano além dele mesmo. E essa é a pior das identificações que o ego pode atribuir a si mesmo. "Se comerem da fruta da árvore proibida, serão Deuses",diz a serpente que habita em nossos "egos". E ela continua enganando muitas pessoas, desde o princípio dos tempos, fazendo com que elas acreditem que são "O Deus", fazendo com que elas percam seu paraíso, direito de herança, para viverem clandestinas em um "mundo-que-não-lhes-diz-respeito", para viverem "neste mundo", como se a ele pertencessem.

                             Mesmo sabendo que é impossível a consciência se enganar nas artimanhas do panteísmo, devemos entender que muitas pessoas ainda não conseguem distinguir seus "egos" de seus “eus”. Muito menos os seus “eus” do “Eu Supremo”. É preciso cautela ao falar, ao ensinar. Como podemos ver, o limite que separa a graça da "comunhão com o divino" do "pecado original do ego" é apenas um pequena linha frágil e diáfana, quase imperceptível ou inexistente para muitos. É preciso ter muito cuidado para não sair de um estado espiritual e cair abruptamente no outro. Daí vem o ditado: "Quando maior a ascensão, maior pode ser a queda". Pecado e Comunhão estão muito próximos um do outro. Apenas um fio os separam. Sempre foram muito próximos (e sempre foram muito paradoxais, também). Sim, não é mentira que Lúcifer, o ego, o pai da mentira, a serpente, é o anjo mais lindo do céu. Sempre esteve muito próximo da graça. É lindo e atraente. Sedutor, na maioria das vezes. Mas o ego é apenas um anjo. O Eu, a consciência, é mais do que um mero anjo: É FILHO DE DEUS!


(Fim)



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5 comentários:

Annie dos Ventos disse...

Bons Ventos Mizi..
saudade dessa dimensao blogueira...
Estou refletindo e mergulhando em tuas palavras...
cafunés e muita luz!

Anônimo disse...

Que saudades dos cafunés...

Obrigado pela visita!

Anônimo disse...

Mas como está bonito o novo visual do seu blog.
Olha , não li os últimos textos, só o da família, vou ler depois, com calma.
bjo

Anônimo disse...

"Somos iguais em natureza, mas individuais em escalas de proporção, tanto entre nós, criaturas, quanto entre nós e Deus, Criador. É como se fôssemos uma gota de água, e Deus fosse o Oceano. A gota é gota. Oceano é Oceano. Mas ambos são da “natureza água”, de modo que se estiverem juntos em unidade de desígnios não haverá diferenciação. Serão Um."

Lindo isso... Amo você. Continue sendo essa pessoa maravilhosa.
Seu broder se orgulha..
Abração..
obs: temos que comprar o ingresso pro show dos anjos de resgate!

Anônimo disse...

ass: juquinha