domingo, 19 de abril de 2009

Por que Jesus Cristo ressuscitou no domingo?


                              Durante a semana santa em que relembramos a paixão do nosso Senhor, Jesus Cristo, refletimos sobre uma das razões místicas e elevadas do excelso ato de sua entrega total ocorrido numa sexta-feira. Concluímos, motivados pela experiência da piedade e da confiança nas revelações místicas, que Jesus escolheu uma sexta-feira para morrer para, figurativamente, indicar que quem morria naquela cruz não era Deus, mas sim a velha humanidade, que havia sido criada numa sexta-feira. Morrendo numa sexta-feira, Jesus levou consigo toda a humanidade pecadora, pagando Ele mesmo o preço por nossos pecados e iniquidades. Tudo que era velho está agora morto por meio daquele ato de entrega.
                              Se o homem antigo, criado numa sexta-feira para reinar e desfrutar de todas as criaturas e riquezas criadas por Deus nos "dias" anteriores, morreu numa sexta-feira, significa que todas suas primícias de "coroa da criação", ou seja, de criatura que deveria ser servida, haviam acabado. O homem não mais seria o "dono das criaturas", não mais seria servido pelo universo. Deus havia mimado demais a humanidade, e isso a tornou cruel, egoísta e mesquinha. O plano da salvação envolveu a morte da velha humanidade para o nascimento da nova humanidade, com base na nova aliança com o Criador. A ressureição de Cristo num domingo nos indica que o homem deixa de ser o "rei da criação" e passa a ser o "servo da criação". A nova humanidade, sendo criada no primeiro "dia" da semana, revela o desejo que Deus tem de que o homem seja co-criador na obra da criação e da redenção. A nova aliança é o serviço, é a construção de um mundo mais justo e solidário, a construção do Reino de Deus na terra, na qual os homens saem de suas posições privilegiadas e colocam "a mão na massa". Toda a vida e ministério de Jesus Cristo foi o ensinamento sobre o Amor e a Caridade, ou seja, o serviço incondicional do homem perante o próximo e o planeta Terra. A luz, o mundo, as árvores, os animais, tudo o que foi criado para servir ao homem velho, ainda não existe (metaforicamente) quando da criação do homem novo, posto que este nasce no primeiro dia. Assim, tudo o que será criado (metaforicamente) nos dias seguintes será criado para ser servido pelo homem. O homem novo deve ser o servo maior, o sacerdote do universo.

                             Tal é a lógica do cristianismo, a inversão lógica de tudo o que era velho e tido como verdade. Assim, a Verdade deixa de ser aquilo que se pensava ser e se revela exatamente como o extremo oposto: "se você quiser viver, terá que morrer"; "se você quiser ser o primeiro, terá que ser o último"; "se quiser ser servido, terá que servir"; "se quiser ser grande, terá que ser pequeno", "se quiser ser feliz e consolado, terá que chorar"; "Se quiser conquistar a terra pela força, terá que ser manso e pacífico"; "Se quiser ser saciado, terá que ter fome de justiça"; "se quiser ser perdoado, terá também que perdoar"; "Se quiser ser 'rico', terá que doar seus bens, não os acumulando". "Se quiser que os problemas vindouros se resolvam, terá que parar de se preocupar antecipadamente"; "Se quiser ter repouso, terá que carregar sua cruz"; "se quiser ser glorificado, terá que se humilhar"... Tenhamos, pois, em consideração a lógica de Deus, que é a loucura diante do Mundo, o extremo oposto de nossa lógica humana. Não tenhamos medo de pregar a loucura, pois a "loucura de Deus é mais sábia que os homens". Eis porque Jesus Cristo ressuscitou no primeiro dia: para que o novo homem seja servo do universo, sacerdote do Amor e da Caridade.



"Durante a ceia, sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, depôs as suas vestes e, pegando duma toalha, cingiu-se com ela. Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Chegou a Simão Pedro. Mas Pedro lhe disse:

- Senhor, queres lavar-me os pés!...

Respondeu-lhe Jesus:

- O que faço não compreendes agora, mas compreendê-lo-ás em breve.

Disse-lhe Pedro:

- Jamais me lavarás os pés!...

Respondeu-lhe Jesus:

- Se eu não lavar seus pés, não terás parte comigo.

Exclamou então Simão Pedro:

- Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.

- Disse-lhe Jesus:

- Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem todos!...(Pois sabia quem o havia de trair; por isso, disse: Nem todos estais puros).

Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à mesa e perguntou-lhes:

- Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes." (João 13, 2-17).




(Um Deus de joelhos)


Ele, o nosso Senhor Deus, tem se ajoelhado por nós e nos servido desde o princípio da Criação. Tudo Ele tem feito por nós. Em verdade, não é o servo maior que o seu Senhor. Se, portanto, ressuscitamos em Cristo como criatura nova, devemos perceber que chegou a nossa vez de nos ajoelharmos e servirmos ao próximo, para que sejamos dignos de sermos chamados filhos de Deus, semelhantes a Ele em todos os aspectos.




.


Nenhum comentário: