domingo, 12 de abril de 2009

A Ressurreição (A Nova Páscoa)


                             A palavra Páscoa significa “Passagem” no idioma hebraico. Antigamente comemorava-se a Páscoa como a passagem do povo hebreu das terras do Egito para a terra prometida, ou seja, da Escravidão à Liberdade. Os tempos passaram, e o povo continuou cativo, só que agora de uma escravidão pior que a primeira, ou seja, a escravidão da alma causada pelos pecados. Falava-se muito também da submissão ao Império Romano, mas esta não era o verdadeiro objeto da vinda de Cristo. A nova páscoa, baseada na morte e paixão de Cristo, tornou-se a celebração da nova passagem: a passagem da escravidão espiritual calcada nos pecados e nos atos nocivos à alma para a verdadeira Liberdade e paz de espírito, a remissão dos pecados que se dá pelo Cordeiro de Deus.
                             A morte de Cristo põe fim à peregrinação dos seguidores, abrindo uma nova fase: o Reino de Deus na Terra. Cristo deu-nos vida pela sua morte, pois ao vencer a morte, mostrou-nos que nada no mundo é impossível. Foi necessário que a palavra se cumprisse em tudo (a Palavra na bíblia é mais do que a promessa de Deus ou os escritos bílbicos. A Palavra sempre foi empregada como metáfora para o próprio Deus, ou seja, a Palavra ou Verbo divino). De fato, como Deus é a Palavra e a Palavra se cumpre por meio da natureza das coisas, até mesmo Cristo teve de cumprir a Palavra, pois era esta Ele próprio. Com Seu exemplo, mostrou-nos que o mundo é perfeito em todas as coisas, ou seja, a Palavra é perfeita e não precisa ser mudada, mas sim nossa postura para com as coisas do mundo. Deus já é perfeito em si mesmo, e o provou submetendo-se Ele mesmo às Suas Leis e, superando-as, mostrou-nos que a verdadeira diferença está em nós mesmos. Nada mais precisa ser mudado. Cristo quer, com o exemplo de Sua morte e ressurreição, que também possamos ressuscitar de nossas vidas mórbidas.
                             Mais do que a ressurreição literal, toda pessoa deve buscar a ressurreição de seu espírito, pois estando constantemente sujeito a erros, devemos sempre deixar as mazelas do passado e seguir adiante como uma nova criatura, uma pessoa que morreu, superou a dor e ressuscitou novamente para a vida. O perdão é parte essencial a essa renovação espiritual e até nisso Cristo nos deu exemplo: aos pés da cruz, sentindo todas as dores da mutilação e o peso do corpo lhe sufocar os pulmões, olhou para seus algozes e orou por eles, dizendo: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem”.
                             Perdoar até mesmo nossos algozes, podendo ser entendido aqui como todas aquelas pessoas que nos magoam, nos maltratam e zombam de nós: eis o exemplo de sua paixão e ressurreição no Reino de Deus. Com isso, Cristo nos ensina que devemos sempre deixar tudo para trás para que seja possível ter uma vida espiritual plena no Presente, no eterno Agora. É esse o verdadeiro sentido da ressurreição: “A tudo quanto perdoardes, vos será perdoado, mas tudo o quanto não perdoardes, vos será retido”. Mais do que justiça social, essa sentença trata sobre a forma psicológica com que lidamos com o passado. Quanto mais remoemos as coisas ruins do passado, mais fazemos crescer as sementes do ódio e do ressentimento no coração, pois a mente não será capaz de deixar esses pensamentos fluírem, como é o natural de acontecer. O natural é a efemeridade das coisas, até mesmo dos pensamentos, ou seja, é necessário deixá-los passar, deixá-los para trás, deixá-los morrer, para que sigam o curso natural das coisas. Se formos capazes de perdoar, esquecer-nos-emos dos fatos passados e estes não voltarão a nos perturbar a mente e a paz de espírito. Seremos livres para gozar do momento presente sem aquele sentimento de culpa. Se semearmos a discórdia e a desarmonia em nosso meio social, nosso espírito fica atrelado ao espírito de tantas outras pessoas que se ressentem de nossas ações. O ideal é não se ressentir de nada, nem deixar também que outros se ressintam de nós. Portanto, pedir perdão é tão importante quanto perdoar.





                             O Reino de Deus está próximo, como pregou Cristo, mas não no sentido de que o Reino virá em breve, mas sim no sentido de que ele sempre esteve ao nosso lado (esse próximo é um locativo espacial e não temporal), sendo que nossos tipos de ações não nos permitiam deslumbrá-lo. Se vivermos de acordo com a Lei maior do Amor, poderemos viver o momento presente na eternidade, adentrando no Reino de Deus prometido por Cristo a todos aqueles que se demonstram humildes e puros de coração. Entrar no Reino de Deus significa viver verdadeiramente o momento presente. Viver o presente significa ser livre e novo a cada instante. Ser livre a cada instante significa morrer para o passado e ressuscitar para o Presente. Ressuscitar para o Presente significa estar em comunhão espiritual com o Supremo. A simples presença do Supremo em nossas vidas nos garante a paz de espírito e a vida plena.

“Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham eternamente” (Jo 10, 10).

(Texto de autoria própria - publicado pela primeira vez em 11 de abril de 2007)



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