sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O AMOR NOS TORNA RESPONSÁVEIS - Parte XIII (Final)



13 – Morrer de Amor (síntese da obra)

                              A semente que cai na terra não está condenada à morte. Dela brota a vida, uma vida mais rica e mais abundante que a anterior. É da morte que surge a verdadeira Vida. Assim, morrer de Amor é a única morte certa. Morrer de Amor é a maneira mais certa de se morrer. Mas o que significa isso? Talvez as pessoas não entendam. Nem é fácil entender, porque poucos entendem a loucura da cruz: poucos entendem o gesto daquele que morreu na cruz por Amor.

                              Os homens vivem confundidos. Dão suas vidas por causas que não são eternas, que não são absolutas. O piloto corre na pista sabendo o perigo a que se submete e que uma capotagem é fatal. E assim faz sem ter uma razão plausível ou sem encontrar um sentido maior em tudo isso. O materialista gasta sua vida na aquisição de bens materiais que um dia fugirão de suas mãos, e mesmo assim também é infeliz e não encontra um sentido em sua vida.

                              O cristão vive como todo mundo vive. Não é um anjo descido do céu. É um ser humano igual a todo mundo. Mas, diferente de todo mundo, não vive por viver. Vive por uma causa nobre, sua vida tem um sentido. Sua existência tem uma razão de ser. Ele é dono de uma história nova, de um fato novo que se repete sempre em todas as épocas: o Amor. Esse é o sentido de sua vida, e é por esse motivo que ele gasta sua vida. Deixa de simplesmente “consumir”, e passa então a “se consumir”. Esgota a sua vida como uma vela ardente, queimando-se de amor, gerando luz, calor e felicidade. Ele entende que, para que uma estrela brilhe, é necessário que ela se consuma. Sem morte não há vida. Morte certa. Morte de amor. Doação total de si mesmo. “Kenosis”. Aniquilação total de si mesmo, do “baixo ego” e da personalidade em prol da essência máxima. O Cristão é aquele que descobriu como gerar a Vida verdadeira: morrer de amor. A cada instante, a cada minuto, em cada gesto, tudo é uma manifestação da doação de si mesmo. Ele doa tudo: sua gentileza, sua educação, sua paciência, sua honra, seu caráter, sua ética, sua confiança, sua sinceridade e até mesmo seus bens, se necessário. Tudo isso ele dá a todo mundo, manifestando sua verdadeira vida. Morrendo de amor. O cristão não sabe fazer outra coisa, senão morrer para o mundo, doar a si mesmo, e gerar vida em abundância, felicidade para si e para os que estão a sua volta. É uma estrela. Um astro rei que se consome.

                              Os que não fizeram um encontro real com o Cristo, ao contrário, apenas consomem. Consomem tudo a sua volta e em nada encontram a felicidade. Comportam-se como verdadeiros “buracos negros”, sugando a energia e a matéria de tudo e de todos à sua volta. É um ser compulsivo. Tenta jogar tudo para dentro de si, e lá dentro tudo se perde num vazio sem fim. Não sabe “se consumir”, sabe apenas “consumir”. Não sabe doar, sabe apenas exigir. Não transborda sua essência. Apenas suga o que está à sua volta. Enquanto os cristãos são como estrelas, os que não conhecem o Amor verdadeiro são como “buracos negros”. Apenas parasitam a existência e em nada contribuem. Não acham a sua felicidade, nem dão felicidade a ninguém. Não encontram o sentido de suas vidas. Nem dão sentido à vida de ninguém. Seus olhares andam perdidos em qualquer direção, e nada enxergam.

                              O cristão, no entanto, tem uma direção para olhar. Seus olhos estão voltados para a cruz. Cruz que não é sinal de morte, mas de vida. Cruz onde alguém morreu por Amor, gerando vida. Onde alguém deu sua vida, e esse alguém continua dizendo: “quem quiser me seguir, tome sua cruz e siga-me”. A partir desse fato, a partir desse momento, todo Amor autêntico tornou-se crucificado. O Amor total, Cristo, morreu crucificado. Morreu de Amor. Aniquilou-se para gerar a Vida.

                              A vida do mundo depende daqueles que sabem morrer. Somente os que sabem morrer de Amor é que fazem renascer a vida verdadeira, espalhando aos quatro ventos e direções a essência verdadeira. O Cristo falou: “Eu sou a Vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá, e todo aquele que vive e crê em mim jamais morrerá.” Também disse: “Aquele que buscar ganhar sua vida, perde-la-á. Mas aquele que gastar a sua vida em prol de Mim e do evangelho, encontra-la-á”. E o que é o evangelho senão a “boa nova” de que Deus é Amor? Quem morre de Amor tem a morte semelhante a de Cristo, que morreu para dar vida ao mundo. Aquele que gasta a sua vida, verdadeiramente a encontra. Morrer de Amor não é uma expressão meramente literal, mas inclui toda uma dimensão espiritual e mística, em que a pessoa faz de sua própria vida uma perfeita oblação à divindade. O culto mais agradável a Deus é certamente fazer a oferta do próprio coração. Dar-se a Deus. Aniquilar-se. Deixar Deus assumir o comando de sua vida. Consumir-se de Amor. “Aquele que gastar a sua vida, encontra-la-á.”

                              Ali estão os santos. Pessoas que morreram de Amor. Ali estão os cristãos atuais. Dão a vida por uma sociedade nova. Os santos que viveram ao longo dos anos marcaram suas épocas, suas sociedades, justamente pelo seu modo de viver diferente. Não apenas buscavam um sentido para suas vidas como todos as outras pessoas, que apenas consumiam a Criação. Mas verdadeiramente davam um novo sentido ao mundo, ao aprenderem a Amar. Mais do que só buscar sentidos, o cristão aprendeu a dar sentidos à vida. O Cristão é um sinal de vida num mundo marcado pela morte.

                              É hora de nos perguntarmos: para que causa estamos gastando a vida? Estamos morrendo de Amor?



O Milagre desta Comunhão
(Walmir Alencar)



(Texto de Wilson João, retirado do livro “O Amor nos torna responsáveis”)
(Adaptação e correção gramatical por Mizi)



FIM





.

Um comentário:

- Mizi - disse...

AÊ, pessoal!

Finalmente chegamos ao fim desta série muito linda que nos fala um pouquinho mais sobre o Amor de Deus.

No entanto, é necessário fazer algumas considerações sobre a transcrição em geral. Na obra original, o capítulo "morrer de amor" é o número 12, e o "convite à coragem" é o capítulo 13. Porém, ao transcrever o livro, percebi que seria mais coerente inverter essa ordem dos últimos capítulos, já que o tema principal é o Amor.

Além disso, o livro possui um capítulo 14, que preferi omitir e não publicar, já que apenas repete as considerações já feitas nos capítulos anteriores. Assim, considero que a obra toda do autor original completa seu sentido nesses 13 capítulos que foram transcritos.

É necessário também fazer um adendo. Como sempre fiz questão de deixar claro, a obra não é minha, mas, não raras vezes, tive que fazer adaptações para inserir o texto num contexto mais atual, dando uma abrangência maior à obra. Assim, como podem perceber, embora a obra original apresente capítulos de tamanhos rigorosamente idênticos, a transcrição pode apresentar alguns capítulos com conteúdo maior do que o de outros. Isso se deveu à essa adapatação que fiz. Apesar de tudo, tentei não colocar algo de todo pessoal nesses escritos, e tentei manter a linha de pensamento original do autor Wilson João, em respeito à sua autoria. E espero não ter problemas futuros com os direitos autorais... Rsss...

Bom, o resultado é este que vocês podem observar. Para facilitar, separei a série toda num tópico específico que pode ser encontrado na coluna esquerda do blog sob a alcunha do nome do livro, "O Amor nos torna responsáveis (por Wilson João)".

Espero que tenham gostado. A série foi grande, pois compreendeu a transcrição de um livro inteiro, que apesar de ser pequeno, possuía um conteúdo consideravelmente grande para ser publicado semanalmente em um blog.

Me desculpem os atrasos e a demora, mas espero que, agora ao final, vocês tenham gostado e sentido que fez alguma diferença na vida de vocês ou que tenham ao menos proporcionado bons momentos de meditação e reflexão.

No mais, só peço que esperem agora pelas próximas publicações. Talvez eu coloque mais músicas e poemas para dar uma aliviada nas sequências. Mas pretendo iniciar a transcrição de outra obra completa em breve.

Muito obrigado.
Abraços!

Mizi