sábado, 11 de junho de 2011

Catecismo - Parte IX


(...continuação)

PARÁGRAFO 6 - O HOMEM

                              355) “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou" (Gn 1,27). O homem ocupa um lugar único na criação: (I) ele é "à imagem de Deus"; (II) em sua própria natureza une o mundo espiritual e o mundo material; (III) é criado "homem e mulher"; (IV) Deus o estabeleceu em sua amizade.

(Parágrafos relacionados: 1700,343)

I. "À imagem de Deus"

                              356) De todas as criaturas visíveis, só o homem é "capaz de conhecer e amar seu Criador”; ele é "a única criatura na terra que Deus quis por si mesma"; só ele é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e pelo amor, da vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental de sua dignidade:

(Parágrafos relacionados: 1703,2258,225)

"Que motivo vos fez constituir o homem em dignidade tão grande? O amor inestimável pelo qual enxergastes em vós mesmo vossa criatura, e vos apaixonastes por ela; pois foi por amor que a criastes, foi por amor que lhe destes um ser capaz de degustar vosso Bem eterno (St. Catarina de Sena)."


(Parágrafo relacionado: 295)



                              357) Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar.

(Parágrafos relacionados: 1935,1877)

                              358) Deus criou tudo para o homem, mas o homem foi criado, para servir e amar a Deus e oferecer-lhe toda a criação:

(Parágrafos relacionados: 299,901)

"Quem é, pois, o ser que vai vir à existência cercado de tal consideração? E o homem, grande e admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que a criação inteira: é o homem, é para ele que existem o céu e a terra e o mar e a totalidade da criação, e é à salvação dele que Deus atribuiu tanta importância que nem sequer poupou seu Filho único em seu favor. Pois Deus não cessou de tudo empreender para fazer o homem subir até ele e fazê-lo sentar-se à sua direita." (São João Crisóstomo)


                              359) "Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado."

(Parágrafo relacionado: 1701)

"São Paulo ensina-nos que dois homens estão na origem do gênero humano: Adão e Cristo... 'O primeiro Adão', diz ele, 'foi criado como um ser humano que recebeu a vida; o segundo é um ser espiritual que dá a vida.' O primeiro foi criado pelo segundo, de quem recebeu a alma que o faz viver... O segundo Adão estabeleceu sua imagem no primeiro Adão quando o modelou. E assim se revestiu da natureza deste último e dele recebeu o nome, a fim de não deixar perder aquilo que havia feito à sua imagem. Primeiro Adão, segundo Adão: o primeiro começou, o segundo não acabará. Pois o segundo é verdadeiramente o primeiro, como ele mesmo disse: 'Eu sou o Primeiro e o último.'" (São Pedro Crisólogo)


(Parágrafos relacionados: 388,411)




                              360) Graças à Origem comum, o gênero humano forma uma unidade. Pois Deus "de um só fez toda a raça humana" (At 17,26; Tb 8,6):

(Parágrafos relacionados: 225,404,775,831,842)

"Maravilhosa visão que nos faz contemplar o gênero humano na unidade de sua origem em Deus...; na unidade de sua natureza, composta igualmente em todos de um corpo material e de uma alma espiritual; na unidade de seu fim imediato e de sua missão no mundo; na unidade de seu hábitat: a terra, de cujos bens todos os homens, por direito natural, podem usar para sustentar e desenvolver a vida; na unidade de seu fim sobrenatural: Deus mesmo, ao qual todos devem tender; na unidade dos meios para atingir este fim;... na unidade do seu resgate, realizado em favor de todos por Cristo." (Encíclica de Pio XII).


                              361) "Esta lei de solidariedade humana e de caridade", sem excluir a rica variedade das pessoas, das culturas e dos povos, nos garante que todos os homens são verdadeiramente irmãos.

(Parágrafo relacionado: 1939)





II. "Corpore et anima unus" (Uno de alma e corpo)

                              362) A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. O relato bíblico exprime essa realidade com uma linguagem simbólica, ao afirmar que "O Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente" (Gn 2,7). Portanto, o homem em sua totalidade é querido por Deus.

(Parágrafos relacionados: 1146,2332)



                              363) Muitas vezes o termo alma designa na Sagrada Escritura a vida humana (Mt 16,25; Jo 15,13) ou a pessoa humana inteira. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem (Mt 26,38; Jo 12,27) e o que há nele de maior valor(Mt 10,28; 2Mc 6,30), aquilo que mais particularmente o faz ser imagem de Deus: "alma" significa o princípio espiritual no homem.

(Parágrafo relacionado: 1703)

                              364) O corpo do homem participa da dignidade da "imagem de Deus": ele é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito (1 Cor 6,19-20; 1Cor 15, 44-45).

(Parágrafo relacionado: 1004)

"Unidade de corpo e de alma, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao contrário, deve estimar e honrar seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no último dia. (Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II)"


(Parágrafo relacionado: 2289)

                              365) A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a "forma" do corpo; ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria é um corpo humano e vivo; o espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a união deles forma uma única natureza.




                              366) A Igreja ensina que cada alma espiritual é diretamente criada por Deus - não é "produzida" pelos pais - e é imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte e se unirá novamente ao corpo na ressurreição final.

(Parágrafos relacionados: 1005,997)

                              367) Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso "ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts 5,23). A Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa que o homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que sua alma é capaz de ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.

(Parágrafo relacionado: 2083)




                              368) A tradição espiritual da Igreja insiste também na palavra "coração", no sentido bíblico de "fundo do ser" ou "espírito" (Jr 31,33), onde a pessoa se decide ou não por Deus (Dt 6,5; Dt 29,3; Is 29,13; Ez 36,26; Mt 6,21, Lc 8,15, Rm 5,5).

(Parágrafos relacionados: 478,582,1431,1764,2517,2562,2843,2331,2336)


III. "Homem e mulher os criou"

IGUALDADE E DIFERENÇA QUERIDAS POR DEUS

                              369) O homem e a mulher são criados, isto é, são queridos por Deus: por um lado, em perfeita igualdade como pessoas humanas e, por outro, em seu ser respectivo de homem e de mulher. "Ser homem, 'ser mulher" é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são criados em idêntica dignidade, "à imagem de Deus". Em seu "ser-homem" e seu "ser-mulher” refletem a sabedoria e a bondade do Criador (Gn 2,7 e 22).



                              370) Deus não é de modo algum à imagem do homem. Não é nem homem nem mulher. Deus é puro espírito, não havendo nele lugar para a diferença dos sexos. Mas as "perfeições" do homem e da mulher refletem algo da infinita perfeição de Deus: as de uma mãe (Is 49,14; Is 66,13) e as de um pai e esposo (Os 11,1-4; Jr 3,4-19).

(Parágrafos relacionados: 42,239)


"UM PARA O OUTRO". "UMA UNIDADE A DOIS"

                              371) Criados conjuntamente, Deus quer o homem e a mulher um para o outro. A Palavra de Deus dá-nos a entender isto por meio de diversas passagens do texto sagrado. "Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda" (Gn 2,18). Nenhum dos animais pode ser este "vis-à-vis" do varão (Gn 2,19-20). A mulher que Deus "modela" da costela tirada do varão e que leva a ele provoca da parte do homem um grito de admiração, uma exclamação de amor e de comunhão: "É osso de meus ossos e carne de minha carne" (Gn 2,23). O homem descobre a mulher como um outro "eu" da mesma humanidade.

(Parágrafo relacionado: 1605)



                              372) O homem e a mulher são feitos "um para o outro": não que Deus os tivesse feito apenas "pela metade" e "incompletos"; criou-os para uma comunhão de pessoas, na qual cada um dos dois pode ser "ajuda" para o outro, por serem ao mesmo tempo iguais enquanto pessoas ("osso de meus ossos...") e complementares enquanto masculino e feminino. No matrimônio, Deus os une de maneira que, formando "uma só carne" (Gn 2,24), possam transmitir a vida humana: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gn 1,28). Ao transmitir a seus descendentes a vida humana, o homem e a mulher, como esposos e pais, cooperam de forma única na obra do Criador.

(Parágrafo relacionado: 1652,2366)

                              373) No desígnio de Deus, o homem e a mulher têm a vocação de "submeter" a terra (Gn 1,28) como "intendentes" de Deus. Esta soberania não deve ser uma dominação arbitrária e destrutiva. À imagem do Criador "que ama tudo o que existe" (Sb 11,24), o homem e a mulher são chamados a participar da Providência divina em relação às demais criaturas. Daí a responsabilidade deles para com o mundo que Deus lhes confiou.

(Parágrafos relacionados: 307,2415)


IV. O homem no Paraíso

                              374) O primeiro homem não só foi criado bom, mas também foi constituído em uma amizade com seu Criador e em tal harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava que só serão superadas pela glória da nova criação em Cristo.

(Parágrafo relacionado: 54)


                              375) Interpretando de maneira autêntica o simbolismo da linguagem bíblica à luz do Novo Testamento e da Tradição, a Igreja ensina que nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram constituídos em um estado "de santidade e de justiça originais". Esta graça da santidade original era uma participação da vida divina.

(Parágrafo relacionado: 1997)


                              376) Pela irradiação desta graça, todas as dimensões da vida do homem eram fortalecidas. Enquanto permanecesse na intimidade divina, o homem não devia nem morrer (Gn 2,17) nem sofrer (Gn 3,16). A harmonia interior da pessoa humana, a harmonia entre o homem e a mulher (Gn 2,25) e, finalmente, a harmonia entre o primeiro casal e toda a criação constituíam o estado denominado "justiça original".

(Parágrafos relacionados: 1008,1502)


                              377) O "domínio" do mundo que Deus havia outorgado ao homem desde o início realizava-se antes de tudo no próprio homem como domínio de si mesmo. O homem estava intacto e ordenado em todo o seu ser, porque livre da tríplice concupiscência (1Jo 2,16) que o submete aos prazeres dos sentidos, à cobiça dos bens terrestres e à auto-afirmação contra os imperativos da razão.

(Parágrafo relacionado: 2514)




                              378) O sinal da familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim (Gn 2,8). Lá, vive "para cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2,15): o trabalho não é uma penalidade (Gn 3,17-19), mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível.

(Parágrafos relacionados: 2415,2417)

                              379) É toda esta harmonia da justiça original, prevista para o homem pelo desígnio de Deus, que será perdida pelo pecado de nossos primeiros pais.


RESUMINDO

                              380) "Pai Santo, criastes o homem e a mulher à vossa imagem e lhes confiastes todo o universo, para que, servindo a Vós, seu Criador, dominassem toda criatura."

                              381) O homem é predestinado a reproduzir a imagem do Filho de Deus feito homem "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), a fim de que Cristo seja o primogênito de uma multidão de irmãos e de irmãs (Ef 1,3-6; Rm 8,29).

                              382) O homem é "corpore et anima unus" (uno de corpo e alma. A doutrina da fé afirma que a alma espiritual e imortal é criada diretamente por Deus.

                              383) "Deus não criou o homem solitário. Desde o início, 'Deus os criou varão e mulher' (Gn 1,27). Esta união constituiu a primeira forma de comunhão de pessoas."

                              384) A revelação dá-nos a conhecer o estado de santidade e de justiça originais do homem e da mulher antes do pecado: da amizade deles com Deus vinha a felicidade da existência deles no Paraíso.



(Continua...)




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