quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quem é Jesus Cristo?




                              Para uma melhor compreensão das partes X (post anterior) e XI (post seguinte) do Catecismo, resolvi postar um texto com algumas reflexões sobre o misticismo Cristão e a natureza da pessoa de Jesus Cristo. Assim, este post não faz parte do texto original do Catecismo que vem sendo publicado. Por isso, não tem o número dos parágrafos. No entanto, essa intervenção é de essencial importância para a correta compreensão da religião cristã, para tirar de vez o tabu de um Deus enciumado de suas prerrogativas. Deus tem o prazer de nos dar a sua essência e nos tornar Um com Ele, nos divinizando. Mas para isso, precisamos estar unidos a Ele, pois Ele é nossa Vida. Fora Dele não há nada (nada de verdadeiro). Esse post tem a intenção de esclarecer "quem é Jesus Cristo", a fim de fazer sentido os parágrafos vindouros do Catecismo, dando continuidade à explicação do símbolo apostólico. Encarem como uma catequese complementar, que parte de um ponto de vista místico, sem descartar o teológico.

                              Segundo a Mística Católica (baseada na Teologia), o Catolicismo é monista (sim, apesar de parecer dual, não é. Aliás, o dualismo foi uma heresia combatida pela Igreja Católica, quando da origem do "maniqueísmo"... mas isso é outra história). Todos os místicos de todos os tempos concordam que a dimensão trazida pela comunhão instituída por Jesus Cristo supera todo o pecado e todo o império de morte que haviam adentrado no mundo pela revolta de Adão (pecado original). Essa é uma visão holística, universal, ou seja, é católica. Não exclui nenhuma etnia ou gênero humano. É o fim do pecado.


(O Pão do Céu - Sallete)



(O Pão do Céu - Pe. Marcelo Rossi)



                              Assim como todo o gênero humano estava rompido em sua relação com Deus, por causa da concupiscência de Adão (do homem velho), da mesma forma todo o gênero humano foi reconciliado com Deus, por meio da justificação e da graça trazida por Jesus Cristo (o novo homem). Dessa forma, todo aquele que nasce do Espírito é chamado "novo homem", podendo ser também chamado de "Filho de Deus". Essa é a graça trazida por Jesus Cristo. O Filho de Deus reconciliou a humanidade com o Pai, de modo que, sendo nós também homens, possamos assumir a identidade de "homem verdadeiro", uno com Deus.

                              A Catolicidade da salvação em Cristo não exclui nenhum tipo de homem, pois só podemos encontrar nossa própria humanidade em Jesus Cristo (verdadeiro homem). Fora Dele, não há humanidade. O caráter é Universal, é católico. Só exclui uma coisa: a vontade. Pois a única coisa que diferencia a identidade humana é o "LIVRE ARBÍTRIO". É "QUEM" você quer ser. Nisso, a graça não pode nos alterar, pois, para sermos verdadeiramente "deus", precisamos ser verdadeiramente livres. Ou seja, é necessário que possamos fazer a escolha de sermos "Filho eterno" do "Pai eterno". Fora da escolha não há divindade, pois o Amor não dá lugar à Tirania, e a natureza Divina é Amor por essência. O único caso em que a salvação de Cristo não abrange o indivíduo é no caso expresso de "Recusa" da salvação (ao recusar a pessoa do Filho, o indivíduo se revolta contra sua própria vida, pois o Filho é a Nossa Vida. NEle existimos e temos nosso ser, tanto humano quanto divino. É o único caso em que há o pecado... todo pecado é um estado de recusa a Deus, e, portanto, de recusa à Vida. É quando a morte entra na história do indivíduo). "O salário do pecado é a morte".

                              Não podemos recusar a pessoa do Filho em Jesus Cristo, porque Ele veio para tornar essa pessoa a nossa própria pessoa. Só há uma pessoa do Filho na Trindade. Não pode o homem ter existência verdadeira fora daquele que é, em Si mesmo, a Nossa Humanidade, aquele que é o "verdadeiro homem". Fora Daquele que é "o Homem" só há morte, só há o homem velho, o homem decaído, só há Adão (barro que veio do pó e ao pó retorna). Fora do Filho Verdadeiro, não há filhos... há meras criaturas. Para sermos "homem", precisamos estar com aquele que é "o homem". Para sermos divinos, precisamos estar com aquele que é Deus.


(Estar Contigo - Walmir Alencar)



                              A Divindade é uma só. A humanidade também é Uma só. Só existe Um Deus. Só existe Um homem. Só existe Um “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”. Não existem homens... Nem deuses... Não existem consciências (no plural). Não existe João, pedro, fulano, sicrano... Só existe UM. Ninguém é deus de si mesmo. Nenhum indivíduo tem o ser em si mesmo. Só Deus tem a Vida em Si mesmo. Se sou homem, é porque o homem está em mim. Se sou Deus é porque Deus está em mim.


(Como és Lindo - Vida Reluz)



                              Se a Vida não está em mim, então não tenho vida. Se o homem Jesus Cristo não está em mim, então não sou homem. Porque só há Um homem. Se o Deus Jesus Cristo não está em mim, então não sou Deus. Porque só há Um Deus. Todo homem que recebe a vida é Jesus Cristo. Deixa de ser Paulo, deixa de ser João, deixa de ser Thiago... e se torna Jesus.

                              Não é que a Igreja diz que há um homem "fora" chamado Jesus Cristo que existiu há 2000 anos. O que a Igreja diz é que Só Jesus é "O HOMEM". A Igreja ensina que a dimensão histórica do homem Jesus não é a mais importante, nem pode ser apartada da dimensão mística do Cristo Universal (Verbo Divino que já estava COM Deus e que ERA Deus). A dimensão histórica não pode ser negada, sob pena de se perder de vista "a essência do Cristo" e de seus ensinamentos. No entanto, a dimensão do Jesus histórico não é a principal dimensão pregada pela Igreja, uma vez que esta celebra o mistério Eucarístico como ápice da mística religiosa. O ensinamento da Igreja gira em torno da Comunhão (monismo cristão). O mistério Eucarístico nos revela que todos nós passamos a fazer parte de um único "corpo místico", porquanto Jesus é o único "homem verdadeiro". Ele é o Verbo que já existia antes da origem do Universo. O próprio Deus. Aquele mesmo Verbo foi que se encarnou e se tornou a nossa humanidade restaurada. Porque assim como só há Um Deus, só há Um Homem. Assim como só há Um Pai, só há Um filho (o filho é unigênito. Não existem "filhos"... Só há Um Filho).

                              Ele é “O Verdadeiro Homem”. E quando Ele se manifesta em nós, nossa “verdadeira identidade” surge. A imagem do homem decaído (Adão) some, e surge a “imagem verdadeira” do homem (Jesus). Porque não é mais o homem velho (Adão) que vive, mas o Cristo Jesus que vive em nós. Porque Jesus é o homem que serviu de modelo para que Adão fosse feito à Sua imagem e semelhança. Toda a humanidade deveria ser à imagem do Verbo desde o princípio. No entanto, seduzido pela crença de que poderia ser deus sem o Verbo Divino (apartado do verbo divino), o homem caiu na desgraça e no pecado. Jesus se encarnou para devolver a natureza divina ao homem. De Deus tornou-se humano, para que o humano se tornasse Deus. Essa é a obra de salvação. Só Jesus traz a graça porque Ele é a nossa própria natureza humana restaurada. Ele é o Filho reconciliado com o Pai. Ele é o único Filho. Não existe mais Adão. Adão voltou ao pó. Mas Jesus ressuscitou. Jesus é a Vida. E se assumimos a nossa humanidade como a do próprio Jesus, então nós teremos a Vida, então nós não morreremos.

                              Com a humanidade de Jesus nos vem também a divindade de Jesus. Seremos homem e deus, segundo o Filho. Seremos “O Filho”. Não metade homem e metade deus. Mas inteiramente homem e inteiramente deus, porque essa é a natureza do Filho. Esse é o testemunho dos Santos, e a teologia da Igreja.

Jesus = nome do verdadeiro Deus
Cristo = homem divinizado, homem verdadeiro
Jesus Cristo = verdadeiro Deus, verdadeiro Homem. Não a soma de duas naturezas, mas uma única natureza restaurada.

                              O surgimento de Jesus Cristo trouxe-nos bens melhores que os reservados a Adão no princípio. Pois Adão era apenas o Cristo. Quando Adão deixou de ser Cristo, por desconfiança e desobediência, tornou-se criatura mortal. Mas com a encarnação do Verbo, o Homem ganhou nova qualidade. Não é só Cristo. O Homem agora é “JESUS CRISTO”, à semelhança do próprio Verbo Divino. Não aquele que estava COM Deus no princípio, mas aquele que também ERA Deus no princípio. Pois o Cristo Adão estava COM deus, mas não ERA Deus. Já o Cristo Jesus estava COM Deus e ERA Deus. A encarnação do Verbo nos trouxe bens melhores que os que já existiam quando do pecado de Adão. O Homem agora é Jesus Cristo. E quem aceitar essa Humanidade torna-se deus com Deus. Onde abundou o pecado de Adão, superabundou a Graça de Jesus.

                              Eu não creio que um homem chamado Jesus me deu a salvação e só. O que eu creio é que toda homem que recebe a Vida em si mesmo passa a se chamar Jesus Cristo (verdadeiro Deus, verdadeiro homem), pois só há Um Deus, e só há Um homem. E só assim o homem se salva. Quando deixa a velha humanidade recebida de Adão e aceita a nova humanidade concedida por Jesus Cristo. Jesus é o nosso espelho. Ao olharmos no espelho, não devemos enxergar Thiago, João, Ricardo. Devemos enxergar Jesus. Nossos pensamentos são os de Jesus, nossos atos, nosso coração... todo o nosso ser é Jesus. Por isso Paulo disse “vivo, mas não sou eu quem vive. Quem vive é o Cristo”.


(Majestosa Eucaristia - Anjos de Resgate)



                              Quando o homem novo nasce do Espírito, o homem velho morre. Quando Thiago morre, nasce o Cristo (não o Thiago Cristo... Mas Jesus Cristo, porque só Ele é o Filho). Se o galho não está na videira, não produz frutos. Ora, só não produz frutos quem não tem a vida. E se um galho está seco, é arrancado fora. É podado. Todo aquele que é Jesus Cristo produz bons frutos, porque é “o filho amado de Deus”. Porque está com Deus e é Deus. Toma parte na Trindade Santa.

                              “Vivo, mas não sou eu quem vive. Quem vive é o Cristo”, porquanto Jesus Cristo "é o Caminho, a Verdade e a Vida". Se sou Jesus Cristo, homem verdadeiro, Deus verdadeiro, então "eu sou". Se sou Thiago e acho que o Thiago tem vida em si mesmo, então eu não sou. Porque não aceitei que só há um homem. Só há “O HOMEM”. Se não aceito isso, quero que o Thiago exista apartado do Cristo, que doravante é “o homem”. É um grito de independência. É um grito de separação. É querer ser deus, sem Deus. Eu passo a me chamar Adão. Mas se aceito que só há um Homem e Um Deus, então restauro minha Unidade com Deus, e passo a me chamar Jesus. Thiago passa a ser mera individualidade, não uma identidade diferente da do Cristo. Se a individualidade existe além da identidade, existe. Claro. Olhem quantos irmãos nós somos! No entanto, cada um dos irmãos é Jesus Cristo em especial, porque uma só é nossa natureza, uma só a nossa identidade, um só é o nosso EU. Assim, quando Deus aparece como consciência individual, surge Jesus Cristo. Todo indivíduo é Jesus Cristo. O indivíduo Thiago possui identidade de Jesus Cristo. A identidade não é Thiago, é Jesus Cristo. Apenas o indivíduo é Thiago.

                              Daí a liturgia católica orar em todas as missas, todos os dias: “fazei de nós Um só Corpo e Um só Espírito”. Porque, embora o corpo seja constituído de muitos membros (indivíduos), uma só é a cabeça (indentidade), Uma Só é a Pessoa, Um só é o Filho.

No entanto, quem não é membro desse corpo, como pode ser chamado Filho?



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