quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Catecismo - Parte XVI


PARÁGRAFO 2

JESUS MORREU CRUCIFICADO

I. O processo de Jesus


DISSENSÕES ENTRE AS AUTORIDADES JUDAICAS EM RELAÇÃO A JESUS

                              595) Entre as autoridades religiosas de Jerusalém não houve somente o fariseu Nicodemos (Jo 7, 50) ou o ilustre José de Arimatéia como discípulos secretos de Jesus (Jo 7, 50), mas durante muito tempo foram produzidas dissensões acerca de Jesus (Jo 9, 16-17; 10, 19-21), a ponto de, às vésperas de Sua Paixão, São João poder dizer deles que "um bom número deles acreditou Nele”, ainda que de forma bem imperfeita (Jo 12,42). Isso não tem nada de surpreendente se levarmos em conta que no dia seguinte a Pentecostes "uma multidão de sacerdotes obedecia à fé" (At 6,7) e que "alguns do partido dos fariseus haviam abraçado a fé" (At 15,5), a ponto de São Tiago poder dizer a São Paulo que "zelosos partidários da Lei, milhares de judeus, abraçaram a fé" (At 21,20).

                              596) Em relação a Jesus, as autoridades religiosas de Jerusalém não foram unânimes quanto à conduta que deviam adotar (Jo 9, 16-17; 10, 19-21). Os fariseus ameaçaram de excomunhão os que o seguissem (Jo 9, 22). Aos que temiam que "todos crerão em Jesus e os romanos virão e destruirão nosso Lugar Santo e a nação" (Jo 11,48), o Sumo Sacerdote Caifás propôs, profetizando: "Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?" (Jo 11,50). O Sinédrio, depois de declarar Jesus "passível de morte" (Mt 26, 66) na qualidade deblasfemador, mas, tendo perdido o direito de pô-lo à morte (Jo 18, 31), entrega Jesus aos romanos, acusando-o de revolta política (Lc 23, 2), o que colocará Jesus no mesmo pé que Barrabás, acusado de "sedição" (Lc 23,19). São também ameaças políticas o que os chefes dos sacerdotes fazem a Pilatos para que condene Jesus à morte ( Jo 19, 12. 15. 21).


OS JUDEUS NÃO SÃO COLETIVAMENTE RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE JESUS

                              597) Levando em conta a complexidade histórica do processo de Jesus manifestada nos relatos evangélicos, e qualquer que possa ser o pecado pessoal dos atores do processo (Judas, o Sinédrio, Pilatos, etc), conhecidos só de Deus, não se pode atribuir a responsabilidade ao conjunto dos judeus de Jerusalém, a despeito dos gritos de uma multidão manipulada (Mc 15, 11) e das censuras globais contidas nos apelos à conversão depois de Pentecostes (At 2, 23. 36; 3, 13-14; 4, 10; 5, 30; 7, 52; 10, 39; 13, 27-28; 1 Ts 2, 14-15). O próprio Jesus, ao perdoar na cruz (Lc 23, 34), e Pedro, depois dele, apelaram para a "ignorância" (At 3, 17) dos judeus de Jerusalém e até dos chefes deles. Menos ainda pode-se entender que o grito do povo na condenação de Jesus ("que Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" - Mt 27,25) significa uma fórmula de ratificação (At 5, 28; 18, 6 cf. At 5, 28; 18, 6), que estenderia a responsabilidade pela morte de Jesus aos outros judeus no espaço e no tempo.

                              Por isso a Igreja declarou muito oportunamente no Concílio Vaticano II: "Aquilo que se perpetrou em sua Paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que viviam então, nem aos de hoje... Os judeus não devem ser apresentados nem como condenados por Deus nem como amaldiçoados, como se isto decorresse das Sagradas Escrituras" (Vaticano II; 28/10/65).


TODOS OS PECADORES FORAM OS AUTORES DA PAIXÃO DE CRISTO

                              598) No magistério de sua fé e no testemunho de seus santos, a Igreja nunca esqueceu que "foram os pecadores, no geral, os autores e os instrumentos de todos os sofrimentos por que passou o Divino Redentor" (Hb 12, 3). Levando em conta que nossos pecados atingem o próprio Cristo (Mt 25, 45; At 9, 4-5), a Igreja não hesita em imputar aos cristãos a responsabilidade mais grave no suplício de Jesus, responsabilidade que com excessiva frequência estes debitaram quase exclusivamente aos judeus.

                              Devemos considerar como culpados desta falta horrível os que continuam a reincidir em pecados. Já que são os nossos crimes que arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da cruz e já que, com certeza, aquelas pessoas que mergulham nas desordens e no mal “crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem às injúrias" (Hb 6,6). E é imperioso reconhecer que nosso próprio crime, neste caso, é maior do que o dos judeus. Pois estes, como testemunha o Apóstolo, "se tivessem conhecido o Rei da glória, nunca o teriam crucificado" (1Cor 2,8). Nós, porém, fazemos profissão de conhecê-lo. E, quando continuamente O negamos por meio de nossos atos, de certo modo levantamos novamente contra Ele nossas mãos homicidas. Então, também não foram os demônios que O crucificaram; somos nós que, influenciados por eles, O crucificamos e continuamos a crucificá-lo, deleitando-nos nos nossos vícios e nos nossos pecados.


(Por Amor - Anjos de Resgate)




II. A morte redentora de Cristo no desígnio divino de salvação
"JESUS ENTREGUE SEGUNDO O DESÍGNIO BEM DETERMINADO DE DEUS”

                              599) A morte violenta de Jesus não foi o resultado do acaso, um conjunto infeliz de circunstâncias. Ela faz parte do mistério do projeto de Deus, como explica São Pedro aos judeus de Jerusalém já em seu primeiro discurso de Pentecostes: “Ele foi entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus" (At 2,23). Esta linguagem bíblica não significa que os que "entregaram Jesus" (At 3, 13) tenham sido apenas executores passivos de um roteiro escrito de antemão por Deus.

                              600) Para Deus, todos os momentos do tempo estão presentes em sua atualidade. Ele estabelece, portanto, seu projeto eterno de "predestinação" incluindo nele a resposta livre de cada homem à sua graça: "De fato, contra teu servo Jesus, a quem ungiste, verdadeiramente coligaram-se, nesta cidade, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações pagãs e os povos de Israel (Sl 2, 1-2), para executar tudo o que, em teu poder e sabedoria, havias predeterminado" (At 4,27-28). Deus permitiu os atos nascidos de sua cegueira (Mt 26, 54; Jo 18, 36; 19, 11), a fim de realizar seu projeto de salvação (At 3, 17-18).


"MORREU POR NOSSOS PECADOS SEGUNDO AS ESCRITURAS"

                             601) Este projeto divino de salvação mediante a morte do "Servo, o Justo" (Is 53, 11; cf. At 3, 14) havia sido anunciado antecipadamente na Escritura como um mistério de redenção universal, isto é, de resgate que liberta os homens da escravidão do pecado (Is 53, 11-12; Jo 8, 34-36). São Paulo, em sua confissão de fé que diz ter "recebido secundum Scripturas" (1 Cor 15, 3), professa que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras (At 3, 18; 7, 52; 13, 29; 26, 22-23). A morte redentora de Jesus cumpre em particular a profecia do Servo Sofredor (Is 53, 7-8 et At 8, 32-35). Jesus mesmo apresentou o sentido de Sua vida e de Sua morte à luz do Servo Sofredor (Mt 20, 28). Após a Sua Ressurreição, Ele deu esta interpretação das Escrituras aos discípulos de Emaús (Lc 24, 25-27), e depois aos próprios apóstolos (Lc 24, 44-45).


"AQUELE QUE NÃO CONHECERA O PECADO, DEUS O FEZ PECADO POR CAUSA DE NÓS"

                              602) Por isso, São Pedro pôde formular assim a fé apostólica no projeto divino de salvação: "Fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós" (1Pd 1,18-20). Os pecados dos homens, depois do pecado original, são pagos com a morte (Rm 5, 12; 1 Cor 15, 56). Ao enviar seu próprio Filho na condição de escravo (Fl 2, 7), condição de uma humanidade decaída e fadada à morte por causa do pecado (Rm 8, 3). "Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por Ele, nos tornemos justiça de Deus" (2Cor 5,21).

                              603) Jesus não conheceu a reprovação, como se Ele mesmo tivesse pecado (Jo 8, 46). Mas, no amor redentor que sempre O unia ao Pai (Jo 8, 29), nos assumiu na perdição de nosso pecado em relação a Deus a ponto de poder dizer em nosso nome, na cruz: "Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?" (Mc 15,34; Sl 22, 1). Tendo-o tornado solidário de nós, pecadores, "Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós" (Rm 8,32), a fim de que fôssemos "reconciliados com Ele pela morte de seu Filho” (Rm 5,10).


DEUS TEM A INICIATIVA DO AMOR REDENTOR UNIVERSAL

                              604) Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós é um desígnio de amor benevolente que antecede a qualquer mérito nosso: "Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10 e 19). "Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores" (Rm 5,8).

                              605) Este amor não exclui ninguém. Jesus lembrou-o na conclusão da parábola da ovelha perdida: "Assim, também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca" (Mt 18,14). Afirma ele "dar sua vida em resgate por muitos" (Mt 20,28); este último termo não é restritivo: opõe o conjunto da humanidade à única pessoa do Redentor que se entrega para salvá-la (Rm 5, 18-19). A Igreja, no seguimento dos apóstolos (2 Cor 5, 15; 1 Jn 2, 2), ensina que Cristo morreu por todos os homens sem exceção: "Não há, não houve e não haverá nenhum homem pelo qual Cristo não tenha sofrido" (Concílio de Quiercy en 853: DS 624)


III. Cristo ofereceu-se a seu Pai por nossos pecados
TODA A VIDA DE CRISTO É OFERENDA AO PAI

                              606) O Filho de Deus, que "desceu do Céu não para fazer sua vontade, mas a do Pai que O enviou" (Jo 6, 38), "diz ao entrar no mundo:.. Eis-me aqui... eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade... Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas" (Hb 10, 5-10). Desde o primeiro instante de sua Encarnação, o Filho desposa o desígnio de salvação divino em sua missão redentora: "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar sua obra" (Jo 4,34). O sacrifício de Jesus "pelos pecados do mundo inteiro" (1Jo 2,2) é a expressão de sua comunhão de amor ao Pai: "O Pai me ama porque dou a minha vida" (Jo 10,17). "O mundo saberá que amo o Pai e faço como o Pai me ordenou" (Jo 14, 31).

                              607) Este desejo de desposar o desígnio de amor redentor de Seu Pai anima toda a vida de Jesus (Lc 12, 50; 22, 15; Mt 16, 21-23), pois Sua Paixão redentora é a razão de ser de sua Encarnação: "Pai, salva-me desta hora. Mas foi precisamente para esta hora que Eu vim" (Jo 12,27). "Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?" (Jo 18,11). E, ainda na cruz, antes que tudo fosse "consumado" (Jo 19,30), ele disse: "Tenho sede" (Jo 19, 28).




"O CORDEIRO QUE TIRA O PECADO DO MUNDO"

                              608) Depois de ter aceitado dar-lhe o Batismo junto com os pecadores (Lc 3, 21; Mt 3, 14-15), João Batista viu e mostrou em Jesus o "Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" (Jo 1, 29. 36). Manifesta, assim, que Jesus é ao mesmo tempo o Servo Sofredor que se deixa levar silencioso ao matadouro (Is 53, 7; Jr 11, 19) e carrega o pecado das multidões (Is 53, 12) e o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel por ocasião da primeira Páscoa (Ex 12, 3-14; Jo 19, 36; 1 Cor 5, 7). Toda a vida de Cristo exprime sua missão: "Servir e dar Sua vida em resgate por muitos” (Mc 10, 45).


JESUS ABRAÇA LIVREMENTE O AMOR REDENTOR DO PAI

                              609) Ao abraçar em seu coração humano o amor do Pai pelos homens, Jesus "amou-os até o fim" (Jo 13, 11), "pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Assim, no sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou o instrumento livre e perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos homens (Hb 2, 10. 17-18; 4, 15; 5, 7-9). Com efeito, aceitou livremente Sua Paixão e Sua Morte por amor de seu Pai e dos homens, que o Pai quer salvar: "Ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente" (Jo 10, 18). Daí a liberdade soberana do Filho de Deus quando Ele mesmo vai ao encontro da morte (Jo 18, 4-6 ; Mt 26, 53).


NA CEIA, JESUS ANTECIPOU A OFERTA LIVRE DE SUA VIDA

                              610) Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de Si mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos (Mt 26, 20) na "noite em que foi entregue" (1 Cor 11, 23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com Seus apóstolos o "memorial" de Sua oferta voluntária ao Pai (1 Cor 5, 7), pela salvação dos homens: "Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). "Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26, 28).

                             611) A Eucaristia que instituiu naquele momento será o "memorial" (1 Cor 11, 23) de seu sacrifício. Jesus inclui os apóstolos em Sua própria oferta e lhes pede que a perpetuem (Lc 22, 19). Com isso, institui Seus apóstolos sacerdotes da Nova Aliança: "Por eles, a Mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade" (Jo 17, 19).


A AGONIA NO GETSÊMANI

                              612) O cálice da Nova Aliança, que Jesus antecipou na Ceia, oferecendo-Se a si mesmo (Lc 22, 20), aceita-o em seguida das mãos do Pai em sua agonia no Getsêmani (Mt 26, 42), tornando-se "obediente até a morte" (Fl 2,8; Hb 5,7-8). Jesus ora: "Meu Pai, se for possível, que passe de Mim este cálice..." (Mt 26, 39). Exprime, assim, o horror que a morte representa para Sua natureza humana. Com efeito, a natureza humana de Jesus, como a nossa, está destinada à Vida Eterna; além disso, diversamente da nossa, ela é totalmente isenta de pecado (Hb 4, 15), que é a causa da morte (Rm 5, 12); mas ela é sobretudo assumida pela pessoa divina do "Príncipe da Vida" (At 3,15), do "vivente" (Ap 1, 17; Jo 1, 4; 5, 26). Ao aceitar em sua vontade humana que a vontade do Pai seja feita (Mt 26, 42), aceita Sua morte como redentora para "carregar em Seu próprio corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Pd 2, 24).


A MORTE DE CRISTO É O SACRIFÍCIO ÚNICO E DEFINITIVO

                              613) A morte de Cristo é ao mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos homens (1 Cor 57 ;Jo 8,34-36) pelo "cordeiro que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29; 1 Pd 1, 19), e o sacrifício da Nova Aliança (1 Cor 11, 25), que reconduz o homem à comunhão com Deus (Ex 24, 8), reconciliando-o com Ele pelo "sangue derramado por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26, 28; Lv 16, 15-16).

                              614) Este sacrifício de Cristo é único. Ele realiza e supera todos os sacrifícios (Hb 10, 10). Ele é primeiro um dom do próprio Deus Pai: é o Pai que entrega Seu Filho para reconciliar-nos conSigo (1 Jo 4, 10). É ao mesmo tempo oferenda do Filho de Deus feito homem, o qual, livremente e por amor (Jo 15, 13), oferece Sua vida (Jo 10, 17-18) a Seu Pai pelo Espírito Santo (Hb 9, 14), para reparar nossa desobediência.


JESUS SUBSTITUI NOSSA DESOBEDIÊNCIA POR SUA OBEDIÊNCIA

                              615) Como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos (Rm 5,19). Por sua obediência até a morte, Jesus realizou a substituição do Servo Sofredor que "oferece Sua vida em sacrifício expiatório", "quando carregava o pecado das multidões", "que ele justifica levando sobre Si o pecado de muitos" (Is 53, 10-12). Jesus prestou reparação por nossas faltas e satisfez o Pai por nossos pecados.


NA CRUZ, JESUS CONSUMA SEU SACRIFÍCIO

                             616) É "o amor até o fim" (Jo 13, 1) que confere o Valor de redenção de reparação, de expiação e de satisfação ao sacrifício de Cristo. Ele nos conheceu a todos e amou na oferenda de Sua vida (Gl 2, 20 ; Ef 5, 2. 25). “A caridade de Cristo nos compele quando consideramos que um só morreu por todos e que, por conseguinte, todos morreram" (2 Cor 5, 14). Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência em Cristo da Pessoa Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo, abraça todas as pessoas humanas, e que o constitui Cabeça de toda a humanidade, torna possível Seu sacrifício redentor por todos.

                             617) Sua sanctissima passione in ligno crucis nobis iustificationem meruit (Trad.: Por sua santíssima Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação), ensina o Concílio de Trento, sublinhando o caráter único do sacrifício de Cristo como "princípio de salvação eterna" (HB 5, 9). E a Igreja venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes única - Trad.: Salve, ó Cruz, única esperança" (Hino “Vexilla Regis”).


NOSSA PARTICIPAÇÃO NO SACRIFÍCIO DE CRISTO

                             618) A Cruz é o único sacrifício de Cristo, "único mediador entre Deus e os homens" (1 Tm 2, 5). Mas pelo fato de que, em sua Pessoa Divina encarnada, de certo modo uniu a Si mesmo todos os homens ( 1 Cor 12, 12-14), "oferece a todos os homens, de uma forma que Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao Mistério Pascal" (Gaudium et spes nº 22, § 2). Chama seus discípulos a "tomar sua cruz e a segui-Lo" (Mt 16, 24), pois "sofreu por nós, deixou-nos um exemplo, a fim de que sigamos seus passos" (1 Pd 2, 21). Quer associar a Seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros beneficiários dele (Mc 10, 39; Jo 21, 18-19). Isto realiza-se de maneira suprema em sua Mãe, associada mais intimamente do que qualquer outro ao mistério de seu sofrimento redentor (Lc 2, 35): "Fora da Cruz não existe outra escada por onde subir ao céu" (Sta. Rosa de Lima, in vita).




(o Corpo místico de Cristo - 1 Cor 12, 12-14)




RESUMINDO

                              619) "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras" (1Cor 15, 3).
                             

620) Nossa salvação deriva da iniciativa de amor de Deus para conosco, pois “foi Ele quem nos amou e enviou Seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4, 10). "Foi Deus que em Cristo reconciliou o mundo conSigo" (2 Cor 5,19).

                             621) Jesus ofereceu-se livremente por nossa salvação. Este, dom, Ele o significa e o realiza por antecipação durante a Última Ceia: "Isto é Meu corpo, que será dado por vós" (Lc 22, 19).
                             

622) Nisto consiste a redenção de Cristo: Ele "veio dar a Sua vida em resgate por muitos" (Mt 20, 28), isto é, "amar os Seus até o fim" (Jo 13, 1), para que sejais "libertados da vida fútil que herdastes de vossos pais".

                              623) Por Sua obediência de amor ao Pai, "até a morte de cruz" (Fl 2, 8), Jesus realizou sua missão expiadora (Is 53, 10) do Servo Sofredor que “justificará a muitos e levará sobre Si as nossas transgressões" (Is 53, 11; Rm 5, 19).

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