terça-feira, 29 de julho de 2008

Dividir para Unir - Parte VII (Final)

Unindo

                             O intuito da análise compartimentada é apenas o de se conhecer o quanto somos conhecidos. Quem não conhece as partes, dificilmente compreende o todo. Mas após o conhecimento, deve haver a ignorância, que é ignorar o próprio ensinamento adquirido. A ignorância é não fazer do conhecimento o principal, é ignorar que tal conhecimento seja necessário mais do que o próprio objeto do conhecimento. A ignorância é não se apegar ao ensinamento, mas sim utilizá-lo e ir mais além dele. No entanto, há dois tipos de ignorância, e é necessário saber a qual delas nos cabe aderir.
                             Passamos alguns meses dividindo e estudando as partes separadamente, e isso foi necessário. Dessa forma, chegou a hora de unirmos as partes analisadas tão minuciosamente, conscientes de que muitas coisas podem ainda ser descobertas, mas desta vez com uma vantagem: a "ignorância-pura". Não devemos pensar separadamente, pois, como visto, o Espírito, mesmo sendo a Verdade sobre tudo e sobre todos, nunca deixa de estar presente em todos os lugares, mesmo dentro das ilusões. Antes, as próprias ilusões manifestam os aspectos cognoscíveis dessa grande Verdade incognoscível. Portanto, nada nos é em vão. O homem universal dá a cada coisa o seu devido valor, exatamente pelo fato de que o valor de cada coisa se encontra no âmago de seu espírito verdadeiro, e este não está, de modo algum, separado de sua manifestação real. O homem sábio entende que o Espírito nos unifica e nos torna a Unidade na diversidade. E isso lhe traz a Paz.
                             Portanto, chegou a hora de "esquecer" tais produtos mentais surgidos da análise compartimentada, pois se apegar a essa atitude de separação mental não passa de uma "ignorância-burra". Esquecer a compartimentalização não é perder a noção da grandiosidade e das características próprias de cada plano do Todo, abnegando tal conhecimento precioso, mas sim se focar em apenas alguns desses planos e deixar os demais de lado, como se cada um deles pudesse existir separadamente sem o outro. “Ignorância-pura” é ir além da mera diversidade, é ir além da dualidade, é encontrar a verdadeira unidade por traz de qualquer aparência, sem negar as aparências. Apenas a “Ignorância-burra” continua dividindo, separando e até mesmo negando. A Sabedoria não nega nada, mas vai muito além. A burrice nega pretendendo ser pura, mas com isso perde sua pureza e integridade, pois nega que haja unidade no Todo. Se negamos a ilusão, se negamos a diversidade, o Todo deixa de ser Todo, passando ser parte. "Ignorância-burra" é se focar em apenas determinado aspecto do Todo e ignorar todos os outros aspectos, fazendo que o Todo deixe de ser o Todo por definição.
                             Nem mesmo a Verdade deve ser focalizada em separado dos planos inferiores, posto que o Espírito é o que traz Vida à Realidade e à Mentalidade. O Espírito não precisa de ser separado e ser focalizado em separado, posto que já traz toda a ordem e toda a Vida em si mesmo. Quem ignora e rejeita os planos mais baixos não está exaltando o Espírito, mas antes renegando-O. Pois a missão do Espírito não é ser cheio em si mesmo. Isso Ele já o É. Ninguém tem como missão cumprir aquilo que já cumpre. O Espírito compartilha com outros aquilo que tem em plenitude e abundância. Por isso, mesmo o Espírito Santo, sendo e possuindo toda a plenitude em si mesmo, não se separa nunca de sua Criação. É sempre Onipresente. A ilusão é a grande prova de Amor de um Deus todo poderoso que se compartilha sem se diminuir. O Espírito Santo é Amor. O Amor se derrama sobre os outros, pois é doação. O Espírito não precisa de algo que já É. Ele não se derrama sobre si mesmo. Quem precisa do Amor, da Vida, é aquilo que insistimos em rejeitar, ou seja, a ilusão, aquilo que não é, mas que existe irrefutavelmente.
                             Se rejeitamos ou negamos aquilo que não é, como o Amor poderia ser derramado? O Espírito não derrama Sua essência sobre "o Nada", pois Ele não se desperdiça, não se consome. O Espírito é fogo que arde sem consumir. E mesmo sendo possível derramar o Amor sobre o "Nada" (pois a Deus nada é impossível), o "Nada", ao receber o Amor, se tornaria o "Tudo", se tornaria a Criação amada de Deus. De fato, Deus pode chamar todas as coisas a existirem a partir do "Nada", derramando seu Amor no Nada e transformando-o em ALGO. No entanto, não deixa perdida a coisa chamada. Não abandona nunca a Sua Criatura. Continua derramando seu Amor sobre Sua criatura, mesmo após sua "morte física". Por isso, se nem Deus, que chama todas as coisas do "nada" e ao "nada" pode devolvê-las, rejeitou as coisas próprias dos planos inferiores, o que dirá de nós? Deus é Amor, é Vida, é Eterno Criador e mantenedor. A missão do Espírito é a Eterna criação e a eterna Ordem unificadora do Universo e do cosmos.
                             No entanto, O Universo e o Cosmos não podem existir sem a Essência de Deus, sem o Amor de Deus, sem o Espírito Divino que lhes sopra a Vida e a Plenitude, que lhes supre, que lhes move à sua própria evolução escatológica, natural e divina, completando a Criação, que nunca teve início e nunca terá fim, mas que ocorre sempre a cada momento. Portanto, nada dentro do grande Todo pode ser ignorado, nem focalizado em separado, pois "o Todo" é a Criação que Deus próprio realizou. E que homem nenhum se atreva a separar o que Deus criou em unidade. Utilizando a certeza de que a Verdade está presente em todos e que o Espírito é a própria Vida de cada criatura, não nos cabe separar nada, mas sim unir aquilo que é multi-variado e diverso, de unir o que, por acidente, se encontra separado. Chegou a hora de unir tudo: "corpus, anima et spiritum ad infinitum" - corpo, alma (mente) e espírito junto ao Todo.



                             A “ignorância-pura”, que é a Sabedoria, é perceber que nossa missão, como seres espirituais, é a mesma do Espírito. É derramar nosso amor sobre toda a Criação, sem separações, sem discriminações, conscientes de que devemos unificar tudo aquilo que está separado e desgarrado. É manifestar aquilo que somos (e somos amor, pois criados "à imagem e semelhança" de Deus) para aquilo que não somos (a existência). É dar testemunho de que em toda criatura há aquilo que nos unifica em um só corpo místico, comungando-nos as identidades diversas (almas) em uma única e verdadeira identidade (alma), mas preservando nossas individualidades próprias e eternas (espíritos). A Sabedoria da unificação é saber manifestar o Amor, pois apenas no Pai podemos ser chamados filhos. Apenas no Pai somos todos irmãos.

(Fim!)

Um comentário:

H K Merton disse...

Puxa vida, Mizi! Foi uma belíssima série de postagens, e a conclusão foi brilhante. Parabéns, meu irmão! Como é bela a nossa fé!

Cuide bem dela...

A Paz.