quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Catecismo - Parte XII



PARÁGRAFO 2
I. Concebido pelo poder do Espírito Santo.

                              484) A Anunciação a Maria inaugura a "plenitude dos tempos" (Gl 4,4), isto é, o cumprimento das promessas e das preparações. Maria é convidada a conceber aquele em quem habitará “corporalmente a plenitude da divindade" (Cl 2,9). A resposta divina à sua pergunta "Como se fará isto, se não conheço homem algum?" (Lc 1,34) é dada pelo poder do Espírito: "O Espírito Santo virá sobre ti" (Lc 1,35).

(Parágrafos relacionados: 461,721)



                              485) A missão do Espírito Santo está sempre conjugada e ordenada à do Filho (Jo 16, 14-15). O Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la divinamente, ele que é "o Senhor que dá a Vida", fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua.

(Parágrafos relacionados: 689,723)

                              486) Ao ser concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho Único do Pai é "Cristo", isto é, ungido pelo Espirito Santo (Mt 1, 20; Lc 1, 35) desde o início de sua existência humana, ainda que sua manifestação só se realize progressivamente: aos pastores (Lc2,8-20), aos magos (Mt 2,1-12), a João Batista (Jo 1, 31-34), aos discípulos (Jo 2,11). Toda a Vida de Jesus Cristo manifestará, portanto, "como Deus o ungiu com o Espírito e com poder" (At 10,38).

(Parágrafo relacionado: 437)


II. Nascido da Virgem Maria

                              487) O que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que a Igreja crê acerca de Cristo. E o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, a fé Católica em Cristo.

(Parágrafo relacionado: 963)


A PREDESTINAÇÃO DE MARIA

                              488) "Deus enviou Seu Filho" (Gl 4,4), mas, para "formar-lhe um corpo (Hb 10,5)" quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia, "uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26-27):

Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida (Constituição dogmática - Vaticano II).

                              489) Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela missão de santas mulheres. No princípio está Eva: a despeito de sua desobediência, ela recebe a promessa de uma descendência que será vitoriosa sobre o Maligno (Gn 3,15) e a de ser a mãe de todos os viventes (Gn 3,20). Em virtude dessa promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada (Gn 18, 10-14 ; 21, 1-2). Contra toda expectativa humana, Deus escolheu o que era tido como impotente e fraco (1 Cor 1,27) para mostrar sua fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de Samuel (1 Sm 1), Débora, Rute, Judite e Ester, e muitas outras mulheres. Maria "sobressai entre (esses) humildes e pobres do Senhor, que dele esperam e recebem com confiança a Salvação. Com ela, Filha de Sião por excelência, depois de uma demorada espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova economia" (Constituição dogmática Vaticano II).

(Parágrafos relacionados: 722,410,145,64)


A IMACULADA CONCEIÇÃO

                              490) Para ser a Mãe do Salvador, Maria foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função. No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça" (Lc 1,28). Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus.

(Parágrafos relacionados: 2676,2853,2001)




                              491) Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, "cumulada de graça" por Deus, foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX:

(Parágrafo relacionado: 411)

A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do pecado original.

                              492) Esta "santidade resplandecente, absolutamente única" da qual Maria é "enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição, lhe vem inteiramente de Cristo: "Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime". Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a "abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo" (Ef 1,3). Ele a "escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor" (Ef 1,4).

(Parágrafos relacionados: 2011,1077)

                              493) Os Padres da tradição oriental chamam a Mãe de Deus "a toda santa" ("Pan-hagia"; pronuncie "pan-haguía"), celebram-na como "imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espirito Santo, e formada como uma nova criatura". Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida.

"FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA...

                              494) Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude do Espírito Santo (Lc 1,28-37), Maria respondeu com a "obediência da fé" (Rm 1,5), certa de que "nada é impossível a Deus": "Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,37-38). Assim, dando à Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tornou Mãe de Jesus e, abraçando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina de salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu Filho, para servir, na dependência Dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da Redenção:

(Parágrafos relacionados: 2617,148,968)

Como diz Santo Irineu, "obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano". Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: "O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade, a virgem Maria desligou pela fé”. Comparando Maria com Eva, chamam Maria de "mãe dos viventes" e com freqüência afirmam: "Veio a morte por Eva, e a vida por Maria”.

(Parágrafo relacionado: 726)




A MATERNIDADE DIVINA DE MARIA

                              495) Denominada nos Evangelhos "a Mãe de Jesus" (João 2,1;19,25[a72] ), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como "a Mãe de meu Senhor" (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos).

(Parágrafos relacionados: 466,2677)


A VIRGINDADE DE MARIA

                              496) Desde as primeiras formulações da fé, a Igreja confessou que Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto corporal deste evento: Jesus foi concebido "do Espírito Santo, sem sêmen". Os Padres vêem na conceição virginal o sinal de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que veio numa humanidade como a nossa:

Assim, Santo Inácio de Antioquia (início do século II): "Estais firmemente convencidos acerca de Nosso Senhor, que é verdadeiramente da raça de Davi segundo a carne (Rm 1, 3), Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus (Jo 1,13), verdadeiramente nascido de uma virgem... ele foi verdadeiramente pregado, na sua carne, {à cruz} por nossa salvação sob Pôncio Pilatos... ele sofreu verdadeiramente, como também ressuscitou verdadeiramente".

                              497) Os relatos evangélicos (Mt 1, 18-25 ; Lc 1, 26-38) entendem a conceição virginal como uma obra divina que ultrapassa toda compreensão e toda possibilidade humanas (Lc 1,34): "O que foi gerado nela vem do Espírito Santo", diz o anjo a José acerca de Maria, sua noiva (Mt 1,20). A Igreja vê aí o cumprimento da promessa divina dada pelo profeta Isaías: "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho" (Is 7,14, segundo a tradução grega de Mt 1,23).

                              498) Por vezes tem-se estranhado o silêncio do Evangelho de São Marcos e das epístolas do Novo Testamento sobre a concepção virginal de Maria. Houve também quem se perguntasse se não se trataria aqui de lendas ou de construções teológicas sem pretensões históricas. A isto deve-se responder: a fé na concepção virginal de Jesus deparou com intensa oposição, zombarias ou incompreensões da parte dos não-crentes, judeus e pagãos ( cf. S. Justino, dialogus cum Tryphone Iudaeo 66, 67 ; Origenes, Cels. 1, 32. 69 ; e.a). Ou seja, ela não era motivada pela mitologia pagã ou por alguma adaptação às idéias do tempo. O sentido deste acontecimento só é acessível à fé, que o vê no "nexo que interliga os mistérios entre si", no conjunto dos Mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até a sua Páscoa. Santo Inácio de Antioquia já dá testemunho deste nexo: "O príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no silêncio de Deus" (Santo Inácio de Antioquia – Ad Eph. 19, 1 ; cf. 1 Cor 2, 8).

(Parágrafos relacionados: 90,2717)




MARIA - "SEMPRE VIRGEM"

                              499) O aprofundamento de sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo após o parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito, o nascimento de Cristo "não diminuiu, mas sagrou a integridade virginal" de sua mãe. A Liturgia da Igreja celebra Maria como a "Aeiparthenos" (pronuncie " áeiparthénos"), "sempre virgem[a87] ".

                              500) A isto objeta-se por vezes que a Escritura menciona Irmãos e irmãs de Jesus (Mc 3, 31-35 ; 6, 3 ; 1 Co 9, 5 ; Ga 1, 19). A Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: com efeito, Tiago e José, "irmãos de Jesus" (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo (Mt 27,56), que significativamente é designada como "a outra Maria" (Mt 28,1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento (Gn 13, 8 ; 14, 16 ; 29, 15).

                              501) Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria (Jo 19, 26-27 ; Ap 12, 17) estende-se a todos os homens que Ele veio salvar: "Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez “o primogênito entre uma multidão de irmãos” (Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno.

(Parágrafos relacionados: 969,970)


A MATERNIDADE VIRGINAL DE MARIA NO DESÍGNIO DE DEUS

                              502) O olhar da fé pode descobrir, tendo em mente o conjunto da Revelação, as razões misteriosas pelas quais Deus, em seu desígnio salvífico, quis que seu Filho nascesse de uma virgem. Essas razões tocam tanto a pessoa e a missão redentora de Cristo quanto o acolhimento desta missão por Maria em favor de todos os homens.

(Parágrafo relacionado: 90)

                              503) A virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus Encarnação. Jesus tem um só Pai: Deus (Lc 2,48-49). "A natureza humana que ele assumiu nunca o afastou do Pai...; por natureza, Filho de seu Pai segundo a divindade; por natureza, Filho de sua Mãe, segundo a humanidade; mas propriamente Filho de Deus em suas duas naturezas."

(Parágrafo relacionado: 422)

                              504) Jesus é concebido pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, pois ele é o Novo Adão que inaugura a nova criação: “O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem do Céu" (1Cor 15,47). A humanidade de Cristo é, desde a sua concepção, repleta do Espírito Santo, pois Deus "lhe dá o Espírito sem medida" (Jo 3,34). É da "plenitude dele", cabeça da humanidade remida (Cl 1,18), que "nós recebemos graça sobre graça" (Jo 1,16).

(Parágrafo relacionado: 359)

                              505) Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de adoção no Espírito Santo pela fé. "Como se fará isto?" (Lc 1,34). A participação na vida divina não vem "do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1,13). O acolhimento desta vida é virginal, pois esta é totalmente dada pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal da vocação humana em relação a Deus (2Cor 11,2) é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria.

(Parágrafo relacionado: 1265)

                              506) Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, absolutamente livre de qualquer dúvida, e de sua doação sem reservas à vontade de Deus (1 Cor 7, 34-35). É sua fé que lhe concede tornar-se a Mãe do Salvador: "Beatior est Maria percipiendo fidem Christi quam concipiendo carnem Christi - Maria é mais bem-aventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a carne de Cristo" (S. Agostinho, De Sancta virginitate. 3 : PL 40, 398).

(Parágrafos relacionados: 148,1814)

                              507) Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização da Igreja. "A Igreja... torna-se também ela Mãe por meio da palavra de Deus que ela recebe na fé, pois pela pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus. Ela é também a virgem que guarda, íntegra e puramente, a fé dada a seu Esposo."

(Parágrafos relacionados: 967,149)




RESUMINDO

                              508) Na descendência de Eva, Deus escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe de seu Filho. "Cheia de graça", ela é "o fruto mais excelente da Redenção". Desde o primeiro instante de sua concepção, foi totalmente preservada da mancha do pecado original e permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida.

                              509) Maria é verdadeiramente "Mãe de Deus", visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem, que é ele mesmo Deus.

                              510) Maria "permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-lo, Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre": com todo o seu ser Ela é "a Serva do Senhor" (Lc 1,38).

                              511) A Virgem Maria cooperou "para a salvação humana com livre fé e obediência". Pronunciou seu "fiat" (faça-se) "em representação de toda a natureza humana". Por sua obediência, tornou-se a nova Eva, Mãe dos viventes.





(Continua...)
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